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quarta-feira, 22 de junho de 2016

Cazuza: "A burguesia fede"


O "Exagerado" Cazuza



Se tem um artista brasileiro que no qual eu gosto, esse “cara” é o Agenor de Miranda Araújo Neto, que ficara mais conhecido como Cazuza.

Nascido no Rio de Janeiro, no dia 04 de abril de 1958. Filho de João Araújo, produtor fonográfico e da cantora Lucinha Araújo, cresceu no meio artístico convivendo com grades cantores da Musica Popular Brasileira.


Em fevereiro de 1989, Cazuza declarou publicamente que era portador do vírus da AIDS. Nesse mesmo ano lançou seu último álbum “Burguesia”. Ao receber o Prêmio Sharp de Melhor álbum para “Ideologia” e de Melhor Canção para “Brasil”, compareceu à premiação, numa cadeira de rodas, já bastante debilitado pela doença. Cazuza faleceu no Rio de Janeiro, no dia 07 de julho de 1990.



Esse sujeito excêntrico, que viveu uma ‘vida louca’, que marcou uma geração. Para ele:

Todo dia é dia
E tudo em nome do amor
Ah! Essa é a vida que eu quis
Procurando vaga
Uma hora aqui, a outra ali
No vai e vem dos teus quadris...


Um poeta:

Acho que o poeta é um insatisfeito. Então a noite, a vida noturna, a vida da boemia, da farra são geralmente frequentadas por pessoas insatisfeitas... Senão, sei lá, elas estariam em casa, por exemplo. Quando uma pessoa vai para o circuito é porque está a fim de viver suas fantasias, de mostrá-las para os outros...  Acho que é a própria insatisfação do artista que o leva a ter uma vida desregrada.


Em entrevista no ano de 1988, Jô Soares faz alusão aos versos de Cazuza na canção ‘Ideologia’ e lança a pergunta: “E aí Cazuza, já encontrou sua ideologia?”. Para a surpresa do ilustre apresentador, Cazuza responde que é socialista e que “o socialismo democrático é a única via para um país como o Brasil”, não obstante o fato de Jô tê-lo anunciado como alguém que “JÁ FOI o garoto rebelde da música popular brasileira e que agora, aos 30 anos, estaria mais manso em sua ideologia”. Jô o interpela a esse respeito, argumentando que todo artista seria “intrinsecamente um anarquista”. 


Cazuza rebate dizendo que “o artista é mesmo do contra, mas não no sentido de ser anarquista e sim no sentido de ser crítico”. Para o célebre cantor carioca, “tudo bem ser anarquista num país rico, onde as pessoas vivem bem, mas a gente, como brasileiro, não pode viver num país pobre e ser anarquista... a gente tem que tomar um partido”.

Link da parte da entrevista ao Jô Soares.

Sua música que na qual mais me chama atenção é a Burguesia. Nela a seguinte frase certamente é um refrão que chama atenção:

“A burguesia fede, a burguesia quer ficar rica; enquanto houver burguesia, não vai haver poesia”

Nela o artista deixa claro sua posição em relação a burguesia. Na música ele critica fortemente a classe burguesa, que não é nada mais que a classe dominante, a classe que tem poderes, a classe que tem dinheiro. A burguesia é a que está no poder tentando ser o mais conservador possível para não mudar nada que possam afetar negativamente, que não possa afetar os seus bolsos, perder seus privilégios.

Mas para o artista, existem pessoas nessa classe que são boas, que “vivem do seu trabalho honestamente”, como Cazuza cantou na música:


“Mas também existe o bom burguês,
Que vive do seu trabalho honestamente
                                        Mas este quer construir um país
E não abandoná-lo com uma pasta de dólares
O bom burguês é como o operário
É o médico que cobra menos pra quem não tem
E se interessa por seu povo”


Cazuza, nitidamente, faz uma sátira com a burguesia (inclusive com os militares). Percebam:


“A burguesia não tem charme nem é discreta
Com suas perucas de cabelos de boneca
A burguesia quer ser sócia do Country
A burguesia quer ir a New York fazer compras”



Na sequência, ironiza e ridiculariza os ‘fardados’ da burguesia, como que querendo “ser ingleses”:


“Os guardanapos estão sempre limpos
As empregadas, uniformizadas
São caboclos querendo ser ingleses”


Cazuza era socialista, visava uma sociedade harmônica e, portanto, era solidário e criticava a ideologia reacionária:


“A burguesia não repara na dor
Da vendedora de chicletes
A burguesia só olha pra si
A burguesia só olha pra si
A burguesia é a direita, é a guerra”


O próprio artista era um burguês, filho de gente rica e influente no Rio de Janeiro. Ele, como artista, se dizia “do lado do povo”:


“Vamos acabar com a burguesia
Vamos dinamitar a burguesia
Vamos pôr a burguesia na cadeia
Numa fazenda de trabalhos forçados
Eu sou burguês, mas eu sou artista
Estou do lado do povo, do povo”


A parte mais emblemática da música, sem dúvidas, é a parte final. Nela, o cantor deixa claro sua indignação, sua revolta, pois, para ele, ‘porcos num chiqueiro são mais dignos que um burguês’. Apesar disso, ele reconhece que “existe o bom burguês”, deixando claro que o “bom burguês é como o operário”. “Que se interessa pelo seu povo”, naquele que vive à margem da sociedade, “em seres humanos vivendo como bichos”, naquele que nada tem e vive no desespero da vida ‘tentando sufocar na janela do carro no sinal’:


“Porcos num chiqueiro
São mais dignos que um burguês
Mas também existe o bom burguês
Que vive do seu trabalho honestamente
Mas este quer construir um país
E não abandoná-lo com uma pasta de dólares
O bom burguês é como o operário
É o médico que cobra menos pra quem não tem
E se interessa por seu povo
Em seres humanos vivendo como bichos
Tentando te enforcar na janela do carro
No sinal, no sinal
No sinal, no sinal”