www

www

quinta-feira, 19 de julho de 2018

A “nova” esquerda e suas velhas limitações




Quando se conversa sobre a alternativa revolucionária e a crise da esquerda brasileira, não muito rápido o oportunismo e a cretinice teórica se envaidecem.

É bem sabido que com uma “ex-querda” que não consegue enxergar nada que ultrapasse dois palmos do nariz, o trabalho da direita se torna fácil. Isso porque podemos até ignorar por um instante que a direita consegue a incrível proeza de se automutilar (através de seus ideólogos analfabetos funcionais).

Na mentalidade dessas “new-lefts” bastam apenas alguns retoques no Estado para que ele passe de “opressor” a “proletário”; ou seja, bastam-lhe tirar as raposas que as galinhas irão tomar conta do galinheiro onde elas mesmas estão presas. Em meio a tanta decadência ideológica (forjada exatamente no seio do capital monopolista).

Na parte do sujeito arendtiano, mal o sabe que a sua mentora fez uma concepção aristocrática da participação política; isto é, “direito à propriedade” – a concepção liberal-conservadora da sociedade. O pupilo não percebeu que ao longo de sua opinião, tendeu ao elitismo político.

A fé do weberiano “de esquerda” é ainda mais fundamental: Weber era um neokantiano que se preocupa na construção de “tipos ideais” generalizáveis, porque a realidade não passa de fenômenos intransponíveis organizados e hierarquizados pela distribuição de poder na sociedade. Tendo por base as formas de racionalidade (econômica, emocional) nas quais os agentes se baseiam para realizarem as mais diversas escolhas. A problemática weberiana desloca-se para o sujeito e suas escolhas, seus interesses e modos de interação.

Em linhas gerais, assumiu o caráter “moral” do capitalismo através da ética protestante como matriz “moralizante” das dinâmicas capitalistas. Seu discípulo é o típico  malandrão que acredita ser o capitalismo o mais eficaz modo de produção e social já criado. O devoto desse geralmente defende um estado forte capaz de liderar o processo de construção nacional. Ainda que o “capitalismo imperialista”, no qual o lucro resulta da violência política coerciva e expansiva, produz “problemas” a um setor do capital, isto é, sem o identifica-lo como uma fase do desenvolvimento do próprio sistema, trata esse fenômeno como um ato isolado e natural.

Nessa visão jamais propõe uma transformação da sociedade, mas sua legitimação. O que ele diz sobre “poupança”, “atividade racional”, etc. opõe-se ao que Marx chamou, por exemplo, de “acumulação primitiva do capital”.

O Foucaultiano pode ser ainda mais intrigante. Esse sujeito é o verdadeiro tumor teórico dessa sub-esquerda hipster. Normalmente pinta a realidade numa desconstrução racional da razão moderna e a formulação de uma proposição política transgressiva viável à intervenção social de uma esquerda que no pós-68 (culminante após a Queda do Muro) que passa a descrer do socialismo, mas, se põe romanticamente na postura rebelde e transgressiva contra o sistema. Esta rebeldia de esquerda tipicamente adolescente resulta na condenação das forças de contestação à ordem vigente a um fatalismo irremediável.

Isso sem falar na romantização da pobreza e da exploração de classe, como fazem valer nas suas palavras de “gratidão pela vida bela e humilde”; e o tal “socialismo cristão” (versão mal-arrumada da Teologia da Libertação) que encaixa nesse minimalismo fajuto, pela qual quem produz o excedente material deve ter a “consciência limpa” de suas “virtudes” (embora o cristianismo seja melhor fundando ontologicamente que essa ideologia). Hoje em dia esses sujeitos se vestem com roupagem “marxista”.

Resultado disso é o florescer de todo tipo de oportunismo com uma concepção frágil que não viola o interior do parco conhecimento da própria situação de classe e da realidade material. Não atinge aqueles fundamentos que residem na propriedade privada, no capital (em todas as suas formas de manifestação) e no Estado como produto histórico da sociedade de classes que precisa ser superado no interior do processo de transformação do trabalho assalariado em trabalho livremente associado. 

Ao pintarem conjuntamente a “revolução” como inviável ou dependente de uma “etapa” – como se a revolução comunista fosse um “processo etapístico” da “dialética da vida”, não vão além de um mero perfume em merda; pois, nisso se manipulam através de pressupostos contrários às suas aspirações mundanas “abstratas”. Ou pior: a revolução seria coisa do passado, mesmo que a  nossa realidade insista em dizer o contrário para esses sujeitos. A burguesia, para eles, pode até feder, porém, não se pode dinamitá-la!

Em comum eles têm “críticas” pontuais a nossa sociedade (desde que não passe da aparência à essência da mesma). Insistem num lixo abertamente subjetivista do “ponto de vista” eclético e, ao mesmo tempo inútil (ainda que haja contribuições relevantes) que polui à céu aberto a atmosfera social. Não foi à toa que Marx disse que “os filósofos até os dias de hoje se limitaram a interpretar o mundo”, porque para transformá-lo é preciso, antes de tudo, produzir teoricamente aquilo que se dispõe nas condições objetivas da sociedade.

A ideia ingênua de alguma mudança substantiva pode ocorrer no interior do Estado (e isso não significa negar o Estado e suas dinâmicas) é puramente idealista – sempre irá naufragar pelos imperativos da própria sociedade burguesa. O Estado, diferente do “ponto de vista” é um complexo que tem como fundamento a propriedade privada (pensem aí no direito à herança ou o casamento civil), sua existência está ancorada na reprodução sóciometabólica do capital (extração da mais-valia para D–M–D’), independentemente de política pública (“combater a corrupção” – moralismo pequeno-burguês), econômica (taxar fortunas, por exemplo), etc.

Essas são variações no interior da mesma ordem reprodutiva que reformá-lo é a síntese da miséria intelectual e da pulsão genuinamente revolucionária. Como dizia Marighella: “A única luta que se perde é a que se abandona”. E tem gente que nem começou ainda...

Nenhum comentário:

Postar um comentário