O "Exagerado" Cazuza |
Se tem um artista brasileiro que no qual eu gosto, esse “cara”
é o Agenor de Miranda Araújo Neto, que ficara mais conhecido como Cazuza.
Nascido no Rio de Janeiro, no dia 04 de abril de 1958.
Filho de João Araújo, produtor fonográfico e da cantora Lucinha Araújo, cresceu
no meio artístico convivendo com grades cantores da Musica Popular Brasileira.
Em fevereiro de 1989, Cazuza declarou publicamente que era
portador do vírus da AIDS. Nesse mesmo ano lançou seu último álbum “Burguesia”.
Ao receber o Prêmio Sharp de Melhor álbum para “Ideologia” e de Melhor Canção
para “Brasil”, compareceu à premiação, numa cadeira de rodas, já bastante
debilitado pela doença. Cazuza faleceu no Rio de Janeiro, no dia 07 de julho de
1990.
Esse sujeito excêntrico, que viveu uma ‘vida louca’, que marcou uma geração.
Para ele:
Todo dia é dia
E tudo em nome do amor
Ah! Essa é a vida que eu quis
Procurando vaga
Uma hora aqui, a outra ali
No vai e vem dos teus quadris...
E tudo em nome do amor
Ah! Essa é a vida que eu quis
Procurando vaga
Uma hora aqui, a outra ali
No vai e vem dos teus quadris...
Um poeta:
Acho que o poeta é um
insatisfeito. Então a noite, a vida noturna, a vida da boemia, da farra são
geralmente frequentadas por pessoas insatisfeitas... Senão, sei lá, elas estariam
em casa, por exemplo. Quando uma pessoa vai para o circuito é porque está a fim
de viver suas fantasias, de mostrá-las para os outros... Acho que é a própria insatisfação do artista
que o leva a ter uma vida desregrada.
Em entrevista no ano de
1988, Jô Soares faz alusão aos versos de Cazuza na canção ‘Ideologia’ e lança a
pergunta: “E aí Cazuza, já encontrou sua
ideologia?”. Para a surpresa do ilustre apresentador, Cazuza responde que é
socialista e que “o socialismo democrático
é a única via para um país como o Brasil”, não obstante o fato de Jô tê-lo
anunciado como alguém que “JÁ FOI o
garoto rebelde da música popular brasileira e que agora, aos 30 anos, estaria
mais manso em sua ideologia”. Jô o interpela a esse respeito, argumentando
que todo artista seria “intrinsecamente um
anarquista”.
Cazuza rebate dizendo que “o artista é mesmo do contra, mas não no
sentido de ser anarquista e sim no sentido de ser crítico”. Para o célebre
cantor carioca, “tudo bem ser anarquista
num país rico, onde as pessoas vivem bem, mas a gente, como brasileiro, não
pode viver num país pobre e ser anarquista... a gente tem que tomar um partido”.
Link da parte da entrevista ao Jô Soares.
Sua música que na qual mais me chama atenção é a Burguesia. Nela a seguinte frase certamente é um refrão que chama atenção:
“A burguesia fede, a burguesia quer ficar rica; enquanto
houver burguesia, não vai haver poesia”
Nela o artista deixa claro sua posição em relação a
burguesia. Na música ele critica fortemente a classe burguesa, que não é nada
mais que a classe dominante, a classe que tem poderes, a classe que tem
dinheiro. A burguesia é a que está no poder tentando ser o mais conservador
possível para não mudar nada que possam afetar negativamente, que não possa
afetar os seus bolsos, perder seus privilégios.
Mas
para o artista, existem pessoas nessa classe que são boas, que “vivem do seu
trabalho honestamente”, como Cazuza cantou na música:
“Mas
também existe o bom burguês,
Que
vive do seu trabalho honestamente
Mas
este quer construir um país
E
não abandoná-lo com uma pasta de dólares
O
bom burguês é como o operário
É
o médico que cobra menos pra quem não tem
E
se interessa por seu povo”
Cazuza,
nitidamente, faz uma sátira com a burguesia (inclusive com os militares).
Percebam:
“A burguesia não tem charme
nem é discreta
Com suas perucas de cabelos de boneca
A burguesia quer ser sócia do Country
A burguesia quer ir a New York fazer compras”
Com suas perucas de cabelos de boneca
A burguesia quer ser sócia do Country
A burguesia quer ir a New York fazer compras”
Na
sequência, ironiza e ridiculariza os ‘fardados’ da burguesia, como que querendo
“ser ingleses”:
“Os guardanapos estão sempre
limpos
As empregadas, uniformizadas
São caboclos querendo ser ingleses”
As empregadas, uniformizadas
São caboclos querendo ser ingleses”
Cazuza era socialista, visava uma sociedade harmônica e,
portanto, era solidário e criticava a ideologia reacionária:
“A burguesia não repara na
dor
Da vendedora de chicletes
A burguesia só olha pra si
A burguesia só olha pra si
A burguesia é a direita, é a guerra”
Da vendedora de chicletes
A burguesia só olha pra si
A burguesia só olha pra si
A burguesia é a direita, é a guerra”
O próprio artista era um burguês, filho de gente rica e influente
no Rio de Janeiro. Ele, como artista, se dizia “do lado do povo”:
“Vamos
acabar com a burguesia
Vamos dinamitar a burguesia
Vamos pôr a burguesia na cadeia
Numa fazenda de trabalhos forçados
Eu sou burguês, mas eu sou artista
Estou do lado do povo, do povo”
Vamos dinamitar a burguesia
Vamos pôr a burguesia na cadeia
Numa fazenda de trabalhos forçados
Eu sou burguês, mas eu sou artista
Estou do lado do povo, do povo”
A parte mais emblemática da música, sem dúvidas, é a parte
final. Nela, o cantor deixa claro sua indignação, sua revolta, pois, para ele, ‘porcos
num chiqueiro são mais dignos que um burguês’. Apesar disso, ele reconhece que “existe
o bom burguês”, deixando claro que o “bom burguês é como o operário”. “Que se
interessa pelo seu povo”, naquele que vive à margem da sociedade, “em seres
humanos vivendo como bichos”, naquele que nada tem e vive no desespero da vida ‘tentando
sufocar na janela do carro no sinal’:
“Porcos
num chiqueiro
São mais dignos que um burguês
Mas também existe o bom burguês
Que vive do seu trabalho honestamente
Mas este quer construir um país
E não abandoná-lo com uma pasta de dólares
O bom burguês é como o operário
É o médico que cobra menos pra quem não tem
E se interessa por seu povo
Em seres humanos vivendo como bichos
Tentando te enforcar na janela do carro
No sinal, no sinal
No sinal, no sinal”
São mais dignos que um burguês
Mas também existe o bom burguês
Que vive do seu trabalho honestamente
Mas este quer construir um país
E não abandoná-lo com uma pasta de dólares
O bom burguês é como o operário
É o médico que cobra menos pra quem não tem
E se interessa por seu povo
Em seres humanos vivendo como bichos
Tentando te enforcar na janela do carro
No sinal, no sinal
No sinal, no sinal”
Link da letra da música: https://www.vagalume.com.br/cazuza/burguesia.html#ixzz4CLcAJgVw