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domingo, 15 de outubro de 2017

Breve reflexão de um futuro professor ao “dia do professor”



Este blog ficou algumas semanas com pouquíssimas postagens. A quem gosta de acompanhá-lo, peço sinceras desculpas. Os motivos da ausência de postagens: universidade a tomar meu tempo, outros blogs que também escrevo – o que me limita a ficar publicando nesse aqui. Entretanto, como a data de hoje é oportuna, quero rabiscar algumas coisas acerca do “Dia do professor”.

Antes de qualquer coisa, é preciso esclarecer que, sem dúvidas, a profissão de professor está dentre uma das mais importantes na nossa sociedade. Ensinar é um ato político, a despeito de se ter ou não consciência disso. Não apenas os conteúdos que ensinamos, mas forma pela qual fazemos. Ensinar vai muito mais além de “passar o conteúdo”. É fundamental para que as crianças e jovens possam pensar e agir conscientemente para a melhoria do mundo a sua volta. Claro que o professor tem tarefa fundamental nisso. Tanto se faz necessário nos escapar do idealismo ingênuo de “ensino para formar cidadãos” (para quê?) é nos ater que a educação por si precisa-se de um foco libertador, na mediação de educador, educando, aluno, aprendiz, etc., que nos dão bases sólidas para a superação da inércia e alienação que paira sobre nossas cabeças.

Paulo Freire, por exemplo, é um dos grandes educadores de nosso tempo. Infelizmente, a turma mais sórdida e estúpida não reconhece que somos um dos piores no ranking de avaliações do sistema educacional no mundo (dentro dos países avaliados). Estes mesmos que vivem a bradar “educação é uma bosta”, mas os próprios olham com estranheza quem ainda persiste e almeja seguir a profissão; reclamam que “nosso povo é burro” ao passo que não percebem – ou fingem não perceber – a grande parte da população sequer tem acesso à cultura, ir em bibliotecas, ou têm pouco hábito de leituras (dada as circunstâncias), e essas são as mais marginalizadas.

Contudo, Paulo Freire consciente disso, escreveu: “Não existe um processo educacional neutro. A educação funciona como [...] o meio através dos quais homens e mulheres lidam crítica e criativamente com a realidade e descobrem como participar da transformação de seu mundo.”. Vale lembrar-se, também, do professor e pai da sociologia brasileira, Florestan Fernandes: “Não existe neutralidade possível: ou se deve optar pelos explorados ou pelos exploradores.”.

Todo ano, nesta data, vemos e lemos as lindas mensagens de “apoio” e “valorização” ao professor. Muitas não passam, sinceramente, de autoajuda que mais atrapalha que ajuda. Por que digo isso? Bizarro saber que o crescimento em matrículas trancadas ocorre, principalmente, em cursos de universidades públicas (74,3%). Em faculdades privadas, o aumento fica em 22,4%. No Brasil, cerca de 1.200 instituições oferecem a formação. O Brasil vive às mostras de como este idealismo ingênuo é perigoso: é consensual que precisamos “melhorar salários de professores”, como é plausível pensar um “modelo novo de ensino”. Entretanto, a educação é algo que ultrapassa o salario do final do mês. Ser professor é bem mais que massificar indivíduos dentro de uma sociedade de “consumidores” – e claro que nisso a educação entra como mercadoria. E nessa “desvalorização” do professor nada mais óbvia as baixas licenciaturas e interesse no ramo por parte das pessoas. E muitos desses “desinteressados” são exatamente as que mais dizem: “ser professor não vale a pena”. Embora saibamos que o problema da educação, professor, etc., sejam mais profundos do que isso.

Em conclusão, estas pessoas que falam em “melhores salários” esquece-se que isso reforça o péssimo modelo de ensino vigente. Como se “aumentar” salários fosse algo que resolveria nossos problemas; como se “formar” professores melhora o processo por si de ensino. Nada mais tolo que usar do estereótipo para reforçar ideologia mercantil. Mas é claro que “valorizar” financeiramente o professor é não apenas importante como necessário. Não deveria parar por aí, pois precisamos reconhecer a contradição evidente entre capitalismo e educação: o primeiro pouco se importa com o indivíduo e vê nele apenas uma boca bocejante por dinheiro; a segunda serve para mudar o primeiro quadro, não para “humanizar”, mas para superá-lo. E só com uma educação cujos professores sejam mais que meros “bons assalariados” conseguirão participar ativamente desta superação.


Foto de Florestan Fernandes.