Os fuzilamentos de 03 de Maio (1808)
Francisco de Goya foi um famoso pintor espanhol da
escola do Realismo do séc. XIX. Nasceu na cidade de Zaragoza, Espanha, em 1746.
Faleceu em Bordéus, França, em 1828. Até hoje, ele é considerado amplamente um
dos maiores mestres da pintura espanhola.
Em suas belas pinturas, Goya retratou mitologia,
religião, guerras, irracionalidade, apocalipse, deuses, chacais, demônios e
feiticeiras provindas dos confins de sua mente criativa e inquieta. Nas obras,
seguia um estilo tragicômico como sugerido pela lírica de Dante, em que unia o
cômico e o trágico em fusão melodramática.
Sua técnica nesse caso era bem caracterizada como
satírica dos costumes, vícios sociais, ridícula aos mitos, superstições
populares sobre bruxaria e misticismo. Além disso, outro lado dos trabalhos de
Goya baseava-se no horror e na crueldade, como em imagens de violência e
guerras, nas quais ele aplica minúcia e sutileza em traços negros, cinzentos e
frios.
A arte de Francisco Goya pode nos remeter a uma
análise filosófica que passa por um autor alemão que fora assassinado durante o
período da Segunda Guerra Mundial: Walter Benjamin. Após uma leitura das teses dos anos 40 do filósofo alemão Walter
Benjamin, pois, começamos a nos intrigar sobre o tempo, a história e seus
desdobramentos, como eles podem ser percebidos.
Vemos, por exemplo, que na música
de Cazuza – O Tempo Não Para, é uma
letra resignada, aceita a história como realmente nos é contada, uma mera
repetição de erros; “Eu vejo o futuro repetir o passado/ Eu vejo um museu de grandes
novidades”. Como diria o sociólogo brasileiro Michael Löwy em seu
livro Walter Benjamin: aviso de incêndio – Uma leitura das teses “Sobre o
conceito de história”, o tempo progressivo, de acúmulo, é um tempo
vazio e homogêneo, ao contrário deve um revolucionário ou historiador
materialista capturar um tempo-de-agora,
encharcado de acontecimentos passados.
Assim, a qualquer momento pode
abrir um lapso no tempo e reivindicar o passado. Um passado esquecido,
um passado de derrotas da classe oprimida, o passado de Spartacus, Comuna de
Paris, Liga Espartaquista, e por que não a queda do muro de Berlim (o fim do
chamado “perigo vermelho”)? Nesse contexto, podemos relacionar a obra de arte
com a literatura de Benjamin à luz da análise de Michael Lowy no seguinte
sentido: os fuzilamentos de 03 de Maio,
ocorrido em 1808 (ano da obra de Goya), após Napoleão invadir a Espanha e a
casa real espanhola. A revolta estoura a 3 de Maio de 1808, quando uma parte do
povo de Madrid tenta evitar a saída, ordenada pelos franceses. A situação
escalou e as tropas francesas atiraram contra os madrilenos sublevados.
Por
vezes o leitor deparará com termos pouco aceitos no marxismo nos escritos de
Lowy, por exemplo, totalitarismo, ou uma critica moral e não política para
com o Pacto Molotov-Ribbentrop (Pacto de não agressão no início dos anos 30) entre
a U.R.S.S e a Alemanha Nazista.
Ao
todo Walter Benjamin escreveu 18 teses e 02 apêndices sobre o conceito de
história, mas não quis publicá-las, porque o filósofo tinha receio de que
pudessem ter interpretações errôneas. Porém após sua trágica morte
em Portbou, na Espanha, tentando sair da Alemanha nazista em encontro dos
EUA, a obra foi publicada postumamente. O autor das teses comete suicídio para
não cair nas mãos da Gestapo.
Löwy nos passa com solidez o pensamento de Benjamin,
a sua preocupação com o progresso desenfreado, o historiador e ou
revolucionário que abandona a cisão com o tempo, e sua originalidade de nos
fornecer uma junção do marxismo com a religião (culminando, posteriormente, na
Teologia da Libertação).
Analisando tese a tese, Löwy destrincha de forma
clara e erudita as ideias, polêmicas, confrontos e ideais por detrás das
proposições de Benjamin. Com uma preocupação inclusive de ilustrá-las por meio
de exemplos da realidade latino-americana, como a Teologia da Libertação e o
Zapatismo de Chiapas. Portanto, vemos que os fuzilamentos retratados no quadro
de Goya servem-nos como reflexão sobre que a burguesia faz, através de seus
braços armados, contra qualquer insurgência subalterna ao redor do mundo.
Referências bibliográficas:
DURÃES,
Fernando. Walter Benjamin e seu pessimismo
revolucionário. https://acervocriticobr.blogspot.com/2017/05/walter-benjamin-e-seu-pessimismo.html.
Acessado em: 17 de outubro de 2018.
RUANO,
Eduardo Silva. As obras naturalistas do
pintor espanhol Francisco de Goya. http://lounge.obviousmag.org/ideias_de_guerrilha/2015/12/francisco-de-goya-obras-impressionistas-de-um-artista-grotesco.html#ixzz5UCbaoxKh. Acessado em: 17/10/18.
LOWY,
Michael. Walter Benjamin: aviso de
incêndio: uma leitura das teses “Sobre
o conceito de história”. Tradução de Wanda Nogueira Caldeira Brant. São
Paulo; Boitempo, 2005.
Bela análise. A obra é muito forte e como o cazuza já nos adiantou, o futuro repetirá o passado.
ResponderExcluir