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quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Francisco de Goya e Walter Benjamin: história, pessimismo e realismo


 
Os fuzilamentos de 03 de Maio (1808)




Francisco de Goya foi um famoso pintor espanhol da escola do Realismo do séc. XIX. Nasceu na cidade de Zaragoza, Espanha, em 1746. Faleceu em Bordéus, França, em 1828. Até hoje, ele é considerado amplamente um dos maiores mestres da pintura espanhola.

Em suas belas pinturas, Goya retratou mitologia, religião, guerras, irracionalidade, apocalipse, deuses, chacais, demônios e feiticeiras provindas dos confins de sua mente criativa e inquieta. Nas obras, seguia um estilo tragicômico como sugerido pela lírica de Dante, em que unia o cômico e o trágico em fusão melodramática.

Sua técnica nesse caso era bem caracterizada como satírica dos costumes, vícios sociais, ridícula aos mitos, superstições populares sobre bruxaria e misticismo. Além disso, outro lado dos trabalhos de Goya baseava-se no horror e na crueldade, como em imagens de violência e guerras, nas quais ele aplica minúcia e sutileza em traços negros, cinzentos e frios.

A arte de Francisco Goya pode nos remeter a uma análise filosófica que passa por um autor alemão que fora assassinado durante o período da Segunda Guerra Mundial: Walter Benjamin. Após uma leitura das teses dos anos 40 do filósofo alemão Walter Benjamin, pois, começamos a nos intrigar sobre o tempo, a história e seus desdobramentos, como eles podem ser percebidos.

Vemos, por exemplo, que na música de Cazuza – O Tempo Não Para, é uma letra resignada, aceita a história como realmente nos é contada, uma mera repetição de erros; “Eu vejo o futuro repetir o passado/ Eu vejo um museu de grandes novidades”. Como diria o sociólogo brasileiro Michael Löwy em seu livro Walter Benjamin: aviso de incêndio – Uma leitura das teses “Sobre o conceito de história”, o tempo progressivo, de acúmulo, é um tempo vazio e homogêneo, ao contrário deve um revolucionário ou historiador materialista capturar um tempo-de-agora, encharcado de acontecimentos passados.

Assim, a qualquer momento pode abrir um lapso no tempo e reivindicar o passado. Um passado esquecido, um passado de derrotas da classe oprimida, o passado de Spartacus, Comuna de Paris, Liga Espartaquista, e por que não a queda do muro de Berlim (o fim do chamado “perigo vermelho”)? Nesse contexto, podemos relacionar a obra de arte com a literatura de Benjamin à luz da análise de Michael Lowy no seguinte sentido: os fuzilamentos de 03 de Maio, ocorrido em 1808 (ano da obra de Goya), após Napoleão invadir a Espanha e a casa real espanhola. A revolta estoura a 3 de Maio de 1808, quando uma parte do povo de Madrid tenta evitar a saída, ordenada pelos franceses. A situação escalou e as tropas francesas atiraram contra os madrilenos sublevados.

Por vezes o leitor deparará com termos pouco aceitos no marxismo nos escritos de Lowy, por exemplo, totalitarismo, ou uma critica moral e não política para com o Pacto Molotov-Ribbentrop (Pacto de não agressão no início dos anos 30) entre a U.R.S.S e a Alemanha Nazista.

Ao todo Walter Benjamin escreveu 18 teses e 02 apêndices sobre o conceito de história, mas não quis publicá-las, porque o filósofo tinha receio de que pudessem ter interpretações errôneas. Porém após sua trágica morte em Portbou, na Espanha, tentando sair da Alemanha nazista em encontro dos EUA, a obra foi publicada postumamente. O autor das teses comete suicídio para não cair nas mãos da Gestapo.

Löwy nos passa com solidez o pensamento de Benjamin, a sua preocupação com o progresso desenfreado, o historiador e ou revolucionário que abandona a cisão com o tempo, e sua originalidade de nos fornecer uma junção do marxismo com a religião (culminando, posteriormente, na Teologia da Libertação).

Analisando tese a tese, Löwy destrincha de forma clara e erudita as ideias, polêmicas, confrontos e ideais por detrás das proposições de Benjamin. Com uma preocupação inclusive de ilustrá-las por meio de exemplos da realidade latino-americana, como a Teologia da Libertação e o Zapatismo de Chiapas. Portanto, vemos que os fuzilamentos retratados no quadro de Goya servem-nos como reflexão sobre que a burguesia faz, através de seus braços armados, contra qualquer insurgência subalterna ao redor do mundo.

Referências bibliográficas:

DURÃES, Fernando. Walter Benjamin e seu pessimismo revolucionário. https://acervocriticobr.blogspot.com/2017/05/walter-benjamin-e-seu-pessimismo.html. Acessado em: 17 de outubro de 2018.

RUANO, Eduardo Silva. As obras naturalistas do pintor espanhol Francisco de Goya. http://lounge.obviousmag.org/ideias_de_guerrilha/2015/12/francisco-de-goya-obras-impressionistas-de-um-artista-grotesco.html#ixzz5UCbaoxKh. Acessado em: 17/10/18.

LOWY, Michael. Walter Benjamin: aviso de incêndio: uma leitura das teses “Sobre o conceito de história”. Tradução de Wanda Nogueira Caldeira Brant. São Paulo; Boitempo, 2005.

Um comentário:

  1. Bela análise. A obra é muito forte e como o cazuza já nos adiantou, o futuro repetirá o passado.

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