www

www

quarta-feira, 27 de julho de 2016

A URSS comparada aos EUA




Há pouco tempo, quando falava num debate sobre os problemas sociais dos EUA (o país em que vivo), perguntaram-me se achava o sistema soviético melhor que o americano.

A ratoeira estava montada: depois das ‘derrotas’ do socialismo no Leste da Europa, a cultura dominante proibiu a esquerda afiançada de “democrática” de falar da URSS sem primeiro, a título de portagem, a condenar ou renegar. E mesmo assim, nem depois da costumeira demonização em piloto-automático, ouvimos falar dos enormes marcos civilizacionais soviéticos.

É óbvio que os EUA não podem ser, em rigor, comparados à URSS. Quando em 1917 os EUA eram um dos países mais avançados do mundo, a Rússia era um obscuro império feudal. De resto, quando se trata de comparar o socialismo ao mundo capitalista, é este último que define os termos, confrontando a realidade do capitalismo com o seu passado efetivo e a realidade do socialismo com o seu prospectivo futuro.

Mas qual seria o resultado se o critério fossem as conquistas sociais? Aceitemos, pois, com esta justíssima condição, a pergunta armadilhada de saber «qual era o melhor sistema» e, sobretudo, «para quem».


O que nunca te disseram sobre a URSS


Em 50 anos, a produção industrial soviética passou de 12 para 85% da alcançada pelos EUA e a pátria de Lênin logrou patamares inéditos de igualdade, segurança, saúde, habitação, emprego, educação e cultura. O socialismo pôs fim à inflação, à discriminação racial e à pobreza extrema. A esperança média de vida duplicou e a mortalidade infantil caiu 90%. Segundo a UNESCO, nunca uma sociedade tinha elevado tanto o nível de vida da população em tão pouco tempo. Ao contrário dos Estados Unidos, perpetuamente assolados por epidemias de desemprego, em apenas 20 anos o país dos sovietes atingiu o pleno emprego.

Os direitos laborais nos EUA continuam hoje 80 anos atrás dos soviéticos: os norte-americanos trabalham em média quase 9 horas diárias. Já os soviéticos trabalhavam 7 horas por dia desde 1936. Os norte-americanos gozam em média 8 dias de férias, amiúde não remunerados. Já os soviéticos tinham direito a um mês de férias inteiramente pagas. Os EUA são o único país da OCDE que não contempla um único dia de licença de maternidade. Na URSS, as mulheres tinham direito a 20 meses de licença paga.

Os EUA não dispõem de um sistema público de saúde, o que condena diariamente 125 trabalhadores à morte. Tal não se passaria na URSS, que oferecia cuidados médicos gratuitos a toda a população. Os jovens norte-americanos contraem uma dívida média de 80 mil dólares durante a licenciatura. Na URSS, todos os graus de ensino, do pré-escolar ao pós-doutoramento, eram gratuitos. Na terra do Tio Sam os trabalhadores gastam metade do seu salário em habitação e serviços básicos. Na URSS, a renda da casa representava 2% do orçamento familiar e os serviços básicos 4%.

A URSS era também uma sociedade mais culta que os EUA. Em 1917, na Quirguízia, menos de 0,2% da população sabia ler e escrever. Em 1970 esse número chegava aos 97%. Nessa década, a URSS foi reconhecida pela UNESCO como o país do mundo onde se liam mais livros e viam mais filmes. As famílias soviéticas assinavam em média quatro publicações periódicas, o número de visitantes de museus representava metade da população e a frequência de teatros ultrapassava o seu total. Nos EUA cerca de 25% da população são tecnicamente «iletrados» (incapaz de compreender textos simples).


Anões aos ombros de gigantes


Como agora a direita europeia reconhece, o próprio Estado Previdência foi uma cedência arrancada a ferros pelos trabalhadores à burguesia, em parte pela necessidade de competir com a URSS em matéria de conquistas sociais.

Bernardo de Chartres, um filósofo do século XII, comparou os feitos da sua geração à figura de «anões aos ombros de gigantes». Também nós devemos reconhecer os benefícios duradouros que colhemos da experiência soviética, afinal, a URSS destruiu sozinha 70% do exército de Hitler e libertou o mundo do genocídio nazi, pagando-o com mais de 24 milhões de vidas e 70 mil cidades e vilas em escombros!


Uma terra sem amos


Com o fim da URSS, o número de pobres aumentou mais de 150 milhões, a economia e os salários encolheram mais de 50%. 75% dos russos caíram na miséria e doenças antes erradicadas atingiram proporções epidémicas. A esperança média de vida caiu para os níveis do século XIX.

Os EUA venceram a guerra fria, mas são todos os dias derrotados pela pobreza de 50 milhões, pela maior taxa de população prisional do mundo e por dois milhões de crianças sem teto. Na URSS, as crianças não dormiam na rua e a democracia não ficava à entrada da fábrica. Foi o mais perto que a humanidade chegou de construir uma terra sem amos.


A URSS foi uma flor rara, de beleza extraordinária e difícil cultivo, que já antes tinha sido arrancada, com apenas dois meses de vida, quando a Comuna de Paris foi esmagada. E mesmo assim voltou a crescer, mais viçosa e resiliente num improvável sulco russo. Extinta a União Soviética, sobrevivem sementes que um dia darão flores novas...


Nota: O artigo é de Antônio Santos retirado do jornal Avante!

OBS:  AQUI está o texto original do blog Bora Discutir.

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Uma nota sobre o mito da doutrinação nas escolas



A despeito da intenção de combater o que identifica como “doutrinação” de alunos por professores, um blog chamado “Escola Sem Partido” – que reúne a nata azeda da direita mais ardilosa e ressentida do país – promove na verdade uma campanha de perseguição contra o pensamento marxista ou, antes, a qualquer coisa que assim lhes pareça adequado classificar, de acordo com parâmetros retirados da mais plena ignorância e/ou da mais rebaixada má-fé. ¹

O astrólogo, diarreico mental e charlatão Olavo de Carvalho, conhecido por suas posições “de direita”, normalmente vinculadas à cultura “letrada” ao qual forma-se uma legião de zumbis com repulsa ao “fantasma vermelho” – comunismo – aderiu fortemente essa ideia também. Isso já mostra o malefício da coisa quando, no senado federal, o autor do projeto é um fanático religioso, além de um burocrata burguês.

O que Olavo se esqueceu de dizer que a educação é, e sempre foi, um ato político. Não foram os “esquerdistas”, ou Paulo Freire, que inventaram isso. Ensinar é um ato político, a despeito de se ter ou não consciência disso. Não apenas os conteúdos que ensinamos, mas forma pela qual o fazemos. A tarefa da escola é justamente tratar da pluralidade de ideias, de visões, etc.

“O desenvolvimento de uma consciência crítica não passa por se colocar à distância das ideologias, mas pelo saber que elas existem, porquê elas estão aí e o que elas dizem, para que o indivíduo possa formar uma posição própria a respeito delas. E isso vai acontecer de um jeito ou de outro, independente das intenções doutrinárias dos pais e dos professores.” – HG Erik.

Acho que as pessoas têm todo o direito de não gostar de Marx ou de Paulo Freire, e de fato há um forte vínculo entre os dois. Mas o legado de Freire vai muito além do marxismo. Aliás, reduzi-lo a ideias comunistas ou doutrinantes é um delírio de quem vê inimigos vermelhos por toda parte. Paulo Freire é uma das grandes referências (se não a maior) da educação brasileira no exterior.

O “Escola Sem Partido” mostra o quanto é risonho e equivocado por diversas razões. A primeira delas é que o próprio conceito de ideologia está não apenas mal-empregado, como invertido. Se não foi o primeiro a pensar sobre, Karl Marx foi, sem dúvidas, o intelectual que mais se debruçou sobre a ideologia para compreendê-la como instrumento de poder num século de importantes transformações. Em A Ideologia Alemã e, depois, em Contribuição à Crítica da Economia Política, o filósofo percebeu que, grosso modo, o principal papel da ideologia era o de naturalizar condições sociais historicamente construídas. É o mecanismo pelo qual, dizia Marx, o capitalismo se faz parecer justo diante do mar de desigualdades por ele provocado.


Na prática, o projeto do Escola Sem Partido pode resultar tanto na criminalização de posições dissonantes em sala de aula quanto por pior: naturalizar elaborações de direita entendidas como neutras. Pois foi exatamente o que Marx concebeu como ideologia. E, verdade seja dita, nada muito diferente de iniciativas que levaram o Ocidente a experiências totalitárias na primeira metade do século XX.

O ‘mito’ da doutrinação é tão sem nexo, que usa até esse bode expiatório da “neutralidade” ou o espantalho delirante sobre o pensamento de Marx. O professor André Azevedo da Fonseca em sua publicação no Facebook, disse:

“Para o pessoal que não trabalha com educação, mas diz que se interessa por educação e está reproduzindo essa teoria da conspiração da "doutrinação nas escolas" por marxistas, sugiro em exercício prático.

Vá em qualquer escola, qualquer uma, na hora da entrada ou da saída. Faça uma enquete com os estudantes. Duas perguntas bastam. Pergunte assim: Qual é o seu maior sonho? Anote as respostas. Sou capaz de apostar que mais de 99% vão dizer variações em torno de: ficar rico, arrumar um emprego, comprar um carrão, viajar, etc. Talvez, se muito, 1% vai dizer: atuar politicamente para fazer um mundo melhor. Confira e depois me diga: qual ideologia está realmente doutrinando as crianças e jovens?

Depois, só para confirmar, pergunte assim: você é capaz de me explicar pelo menos um conceito de Marx. Apenas um, unzinho, dos mais básicos? Anote quantos saberão explicar Marx e quantos vão demonstrar não ter a mínima noção de qualquer conceito dele. Sou capaz de apostar que a totalidade não vai saber explicar, digamos, o que é "mais valia", "superestrutura" ou o que significa "ideologia" para Marx. Aí, com esses dados em mãos, você pode se perguntar: como pode a esquerda estar doutrinando os alunos, mas ninguém sabe explicar nenhum conceito de Marx? E aí vale repensar.”


Além disso, se observarmos o que de fato ocorre nas escolas, fica fácil de perceber que professores que criticam e deturpam Marx, o socialismo e demais alvos da “anti-doutrinação” não estão na exceção, e sim na regra, enquanto defendem o empreendedorismo da venda de balas no sinal em direção ao futuro e certeiro cargo de executivo numa multinacional. ¹

Se tem algo “doutrinante” é isso; legitimar as mazelas da vida em prol de um ideário, e foi justamente nisso que o tão atacado velho barba tratou, junto com seu amigo Engels, n’A ideologia Alemã’. Aliás, logo no prefácio do livro, já se tem a resposta devida à esta falácia de “doutrinação”:


“Até agora, os homens formaram sempre ideias falsas sobre si mesmos, sobre aquilo que são ou deveriam ser. Organizaram as suas relações mútuas em função das representações de Deus, do homem normal, etc., que aceitavam. Estes produtos do seu cérebro acabaram por os dominar; apesar de criadores, inclinaram-se perante as suas próprias criações. Libertemo-los, portanto, das quimeras, das ideias, dos dogmas, dos seres imaginários cujo jugo os faz degenerar. Revoltemo-nos contra o império dessas ideias. Ensinamos os homens a substituir essas ilusões por pensamentos que correspondam à essência do homem, afirma um; a ter perante elas uma atitude crítica, afirma outro; a tirá-las da cabeça, diz um terceiro e a realidade ‘existente’ desaparecerá.” ²


Os sujeitos que escrevem no site ‘Escola Sem Partido’ são explícitos ao pregarem que a “doutrinação” ocorre apenas no pensamento que diverge da verdadeira doutrina, digo, da imaculada concepção – um ideário mal-ajambrado que gravita entre o neoliberalismo e o neoconservadorismo. O delírio é tão grande, pois, tudo que possa ser encaixado na “esquerda” já é motivo de “crítica”.

Esse pessoal é evidentemente doutrinado como uma ovelha de seu “pastor”; é tipo quando um fiel que vê sua fé posta à prova por terceiros, mas ele se nega a enxergar a realidade em prol de sua “ideologia – ou “teologia”.

Assim, como faço aqui no blog, onde é minha trincheira ideológica, estou sempre disposto a ler as contradições e manifestações opostas às minhas, onde os crentes no “deus-mercado” ou algo do tipo não gostam porque, supostamente, ‘matou milhões’ ou porque ‘não dá certo’, a ideologia no qual eles se submetem já os cegaram bastante do conhecimento científico. 

Portanto, achar que há uma “doutrinação ideológica” nas escolas, é no mínimo ser um escravo da vergonha, um ser alienado (na qual a escola tem o dever de libertar dessas amarras), despolitizado, medo do novo, do progresso. A escola já vive sua doutrinação por esses senhores do reino das trevas. Acreditar que existe esse mito é deslegitimar cada vez mais o papel – já decadente – da escola de mudar panoramas sociais, culturais e político na formação de nossos cidadãos!

E, como dizia Voltaire:


“É difícil livrar os tolos das correntes que eles a veneram.”





MARX, Karl e ENGELS, Friedrich, A Ideologia Alemã, pág. 4 e 5, por Fauerbach. ²

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Mises e sua praxeologia


À esquerda o Hayek e do seu lado o grande ''parsa" Mises (ambos austríacos).


O bom austríaco Ludwig von Mises certa vez disse que “a história só ensina àqueles que sabem como interpretá-la com base em teorias corretas”.

Caramba! Esse Mises era ruim demais com frases de efeito... Deixo uma do Paulo Freire bem melhor: “A teoria sem a prática vira ‘verbalismo’, assim como a prática sem teoria, vira ativismo. No entanto, quando se une a prática com a teoria tem-se a práxis, a ação criadora e modificadora da realidade.”. 

Pronto, agora está melhor.

Graças às intuições de Murray N. Rothbard (sim, esse economista usava “intuição” para analisar questões econômicas), ele achava que a crise de 29 foi “culpa” do efeito líquido docontinuum Roosevelt das políticas públicas foi ‘piorando’ a crise e prolongá-la quase até o fim da década de 1930. A Grande Depressão foi uma falha do estado hiperativo, não do capitalismo, segundo ele. Não ria, ele escreveu isso no livro “Anatomia do Estado”.


Então, sendo assim, vou contar algo bem divino a vocês:


Primeiro vou lhes confessar rapidamente como o “Deus-mercado” abandonou seus fiéis na Grande Depressão de 29. O Santo-Estado foi obrigado a intervir.

A intervenção do Estado na economia foi a solução encontrada para acabar com a crise de 1929, que foi o chamado New Deal. No governo de Franklin Delano Roosevelt, foi colocado em prática o plano. De acordo com o plano econômico, o governo norte-americano passou a controlar os preços e a produção das indústrias e das fazendas. Com isto, o governo conseguiu controlar a inflação e evitar a formação de estoques. 

Até a Crise de 1929, a economia era liberalista, onde dizia-se que a economia não precisaria da intervenção do Estado. A economia teria algo chamado “Mão Invisível”, onde ela mesma se regula. A crise de 29 foi a prova que isso não funciona perfeitamente. 

Após o Crash, houve uma ação, desenvolvida pelo economista britânico John Maynard Keynes, onde faziam com que a população trabalhasse em construções de praças e outros bens públicos, ganhasse um salário, mesmo que pouco, e assim compravam os produtos.


Provou-se que há a necessidade de que o Estado seja um regulador econômico, analise de forma macroeconômica e identifique onde precisa de ajustes. Um exemplo claro seria na taxa Inflacionária, que é gerado quando há um consumo maior que a oferta, gerando aumento nos preços. Assim o governo intervém buscando, através de aumento de impostos, a diminuição do consumo.



Agora podemos contar sobre o Reino Encantado do livre-mercado:


De acordo com a teologia ‘libertária’ ou ‘liberal’, o livre-mercado é sempre mais eficiente do que qualquer forma de “socialismo” ou intervenção governamental, como os serviços de saúde gratuitos adotados por certos países. Muito belo, ou não.

Ainda segundo essa mitologia, isso acontece porque num mercado livre no qual todos os agentes envolvidos são privados e a intervenção estatal é mínima ou nula os mecanismos de incentivo e a competição promovem a competição e elevam a produtividade, reduzindo os custos. Foi com base nesse dogma que os Estados Unidos – o contrário da maioria dos outros países desenvolvidos - se recusaram a programar serviços de saúde gratuitos (“single payer universal health care”).

Naquele país, a maioria dos cidadãos paga plano de saúde particular e mesmo assim frequentemente os planos não cobrem tudo, sendo que é comum pessoas morrerem por não poder pagar quimioterapia ou mesmo venderem a própria casa para pagar uma conta de hospital, coisa que jamais acontece com italianos, noruegueses, canadenses, australianos ou franceses – mesmo os mais pobres.

Observe que nos países que possuem serviços de saúde gratuitos, teoricamente (de acordo com os ‘liberais’/libertários), os gastos per capita com saúde deveriam ser mais altos, uma vez que os tratamentos sendo “gratuito”, o paciente não arcam diretamente com os custos e, portanto, tem incentivo para abusar do sistema nesses países. Ninguém jamais deixa de fazer tratamento por falta de dinheiro. Tudo isso deveria elevar os custos e os gastos per capita com saúde nos países com saúde gratuita, certo?

ERRADO! Se analisarmos o gasto per capita com saúde de todos os países do mundo, inclusive as sociais-democracias da Europa, o Canadá e a Austrália, descobrimos que os Estados Unidos ocupam o primeiríssimo lugar. O cidadão estadunidense gasta em média bem mais do que Noruega, Holanda, Alemanha, Suécia, Dinamarca e mais que o dobro do que gastam Canadá, Reino Unido, Austrália e França. Isso é verdade tanto em termos de gasto per capita, quanto em termos de gasto total em proporção do PIB.


Sim, amigos, esta é a realidade incômoda para os que têm fé inabalável na palavra da profetisa judia Ayn Rand e no Deus-mercado!


A realidade não corrobora sua mitologia. Tanto é verdade, que a principal demanda dos eleitores na atual campanha eleitoral nos EUA é nada menos que saúde pública gratuita para todos. Lembre-se disso a próxima vez que alguém repetir aquela frase de efeito da queridinha Margareth Thatcher que “o socialismo dura até acabar o dinheiro dos outros”. A propósito, não consta que os canadenses, suecos e australianos financiem seus serviços de saúde com o “dinheiro dos outros”, mas com seu próprio.


Os fracos pressupostos filosóficos de Mises:


O principal livro de Ludwig Von Mises, “A Ação Humana”, não tem este nome à toa. A economia, ao contrário da história, segundo ele, não é uma ciência do passado e dos dados já acabados. O homem é um ser de ação, e até quando não age sua inação é uma escolha. Ação pressupõe desconforto, a tentativa de migrar de uma situação menos satisfatória para uma melhor, segundo uma avaliação subjetiva do agente.


 “Racionalismo, praxeologia e economia não lidam com as causas e objetivos finais da ação, mas com os meios usados para a consecução do fim pretendido. Por mais insondáveis que sejam as profundezas de onde emerge um impulso ou instinto, os meios que o homem escolhe para satisfazê-lo são determinados por uma consideração racional de custos e benefícios” (Ação Humana, p.40; Epistemological Problems of Economics, p. 52).


Primeiro, não apenas as motivações externas (e internas) determinam a ação, mas também os meios externos e as capacidades próprias do sujeito; segundo, é evidente que os indivíduos pensam, mesmo que mal e parcamente, o que irão fazer o que nada mais é que um truísmo. Se, entretanto, nisso aí entra uma "consideração racional de custos e benefícios", é algo que depende inteiramente do que se busca fazer e, portanto, de todas as determinações mencionadas acima.

Sobre o nosso “economista” autor de um livro bem vendido onde ele expõe sua ‘teoria’, intitulado “A Ação Humana”, ele explica assim sua teologia, digo, PRAXEOLOGIA:


A praxeologia é uma ciência teórica e sistemática, e não histórica. Seu escopo é a ação humana e independe de qualquer circunstância ambiental, acidental e individual. [...] Suas afirmações e proposições não são derivadas através da experiências. São, como a lógica e a matemática, à priori. Não estão sujeitas à verificação ou falsificação baseada na experiência ou em fatos.”


Para quem quiser conferir, essa peripécia dele está escrita na seção 1 do capítulo 2 da Parte 1 do tal livro. Ludwig von Mises ainda afirmou que a demanda determina a oferta, ou seja, o consumo determina a produção, através de um exemplo trivial para refinados economistas de boteco:


Não é porque existem destilarias que as pessoas bebem uísque; é porque as pessoas bebem uísque que existem destilarias”.


Muito sagaz ele com esse exemplo. Porque antes de haverem destilarias, as pessoas bebiam o uísque que jorrava da terra. E depois, para estimular a emergência da existência do uísque, resolveram inventá-las...

Primeiro que não existem ações sociais puramente reflexivas. Toda ação social é uma síntese de múltiplas alternativas, experiências e determinações de cada indivíduo. O erro da praxeologia é justamente o de considerar uma ação social ahistórica, apriorística, sem sua fundação material, com base unicamente na finalidade da mesma. Isto é, desconsiderando todas as alternativas, experiências, determinações, possibilidades e potencialidades que geram uma e não outra ação social desse e não daquele indivíduo. O acúmulo social se daria por meio dessa constante situação de busca por um estado de ser mais satisfatório para o indivíduo. Um completo subjetivismo que ignora os processos sociais (e até biológicos) na dinâmica da evolução do homem.

Segundo que Mises advogava pelas liberdades plenas de mercado livre de qualquer governo na economia, porém diz que todo indivíduo deverá ajustar suas ações segundo as leis do mercado caso queira ser bem sucedido. Ele é explícito ao dizer que a desigualdade é essencial para o funcionamento da economia de mercado (p. 347-9 da obra ‘Ação Humana’), cujo livre funcionamento seria por sua vez o pilar fundamental para a sociedade livre. Contudo, parece reconhecer que todos os indivíduos estarão sim constrangidos por forças externas nessa sociedade. Essa força externa seria o mercado, cujo funcionamento normal contém diversos riscos potenciais de abuso de poder. Em alguns enxertos Mises percebe o problema, mas não o questiona devido às suas definições filosóficas feitas a priori. 


A patranha mal arrumada do senhor Mises:


O objetivo da praxeologia é o conhecimento válido para todas as situações onde as condições correspondam exatamente àquelas indicadas nas suas hipóteses e inferências. Suas afirmativas e proposições não derivam da experiência. São como a lógica e a matemática. Não estão sujeitas a verificação com base na experiência e nos fatos. São tanto lógica como temporalmente anteriores a qualquer compreensão de fatos históricos.” (Mises, Ação Humana, p. 59).


Esta afirmativa é a antítese perfeita para um historiador, um antropólogo, etc. para seus estudos. É claramente a negação da História. Isso sem falar de um relativismo desgraçado que ele ideologizou como “pressuposto de filosofia”.

Formulando as premissas da teoria e tentar estabelecer um padrão lógico do que se pretende:


1) O ser humano toma ação para melhorar sua situação;

2) Essa ação é despida de seu caráter "histórico, sociológico, cultural, etc", numa tentativa de estudá-la em sua forma pura;

3) Influências externas condicionam a ação humana;

4) Nem toda ação humana busca melhorar a situação do indivíduo.

5) A economia pode ser estudada a partir das deduções lógicas derivadas dessas premissas.



O que chama atenção logo de cara é que duas das premissas estão em contradição. A premissa 1 e a premissa 4 são conflitantes. O ser humano age para melhorar sua situação, mas nem toda ação do ser humano busca melhorar sua situação. Ou o conceito foi mal definido, ou ele é contraditório em si mesmo. A finalidade é uma das últimas determinações na ação humana, temos um leque variado de determinações para a ação antes de pensar na finalidade. Na maior parte do tempo agimos de acordo com as "imposições culturais", com as regras sociais e com as leis do mercado.

Como já citado de maneira implícita, a ação humana é determinada, principalmente, pela condição histórica, social, cultural, econômica, etc. que o indivíduo se insere. As possibilidades materiais no nosso desenvolvimento determinam nossas potencialidades e, quando mais alternativas temos de apreensão da riqueza social ao longo do nosso processo de desenvolvimento, mais potencialidades desenvolveram e mais alternativas teremos para determinar nossa ação. Um exemplo bem claro é uma comparação simples: No Brasil, nossa principal força esportiva é o futebol. Na Coreia do Sul, a principal força esportiva são jogos eletrônicos, eSports (com exceções, obviamente). Não por acaso, o jogo eletrônico que o Brasil mais se dá bem a nível mundial é o Counter Strike, jogo que marcou gerações que frequentavam lan houses. Se isso não é uma determinação histórica, social, cultural e econômica que possibilita o desenvolvimento de um tipo específico de potencialidade, é um presente de Deus para o povo brasileiro... Ou seja, a premissa 2 invalida as conclusões tiradas na análise da ação humana em sua forma pura, pois a forma pura da ação humana, isto é, a essência da ação, reside justamente em seu caráter histórico, social, cultural e economicamente determinado.

A premissa 3 entra em confronto com a premissa anterior. Se influências externas alteram a ação humana, pretender estudá-la em sua forma pura a partir de um exercício intelectivo de abstração completa dessas mesmas influências externas invalida esse estudo. O que leva os seres humanos a agir é uma síntese de motivações objetivas e subjetivas, portanto a forma pura da ação humana, a essência do que leva o ser humano a tomar ação tem que ser estudada dentro dessas determinações, ou não é um estudo que apreende a realidade do objeto. 

Se todas essas estão mistificadas ou, no mínimo, equivocadas, é desnecessário dizer que as deduções lógicas a partir dessas premissas para poder estudar a economia obviamente cairão em mais equívocos que, por sua vez, invalidarão o estudo dessa economia. 

Nem entro no mérito da perspectiva de classe explicitamente delimitada da praxeologia, ficaremos só em termos teórico-epistemológicos mesmo.

Para finalizar, destaco que, nas últimas linhas da obra, Mises procura explicar os fatores externos que restringem a liberdade de escolha. No entanto, após destacar as restrições físicas (inevitáveis por natureza) e as “leis praxeológicas” (relações de causa e efeito existentes na cabeça), o austríaco destaca a inter-relação do indivíduo com o meio ambiente (?), porém considera nosso conhecimento sobre esse intercâmbio muito impreciso. Curioso, não? Quando o ideólogo passa a considerar o mundo concreto, síntese de múltiplas determinações, existente para além das vontades e desejos humanos, ele prefere dizer que não existe precisão suficiente. Talvez porque, necessariamente, lidar com o mundo tal como ele é, um todo articulado, excluísse a possibilidade de trabalhar com abstrações puras, vazias, situadas no reino das ideias pairando no éter.


Segue o trecho:


A liberdade de o homem escolher e agir sofre restrições de três tipos. Em primeiro lugar, estão as leis físicas a cujas inexoráveis determinações o homem tem que se submeter se quiser permanecer vivo. Em segundo lugar, estão as características e aptidões congênitas de cada indivíduo e sua inter-relação com o meio ambiente; tais circunstâncias, indubitavelmente, influenciam tanto a escolha dos fins e a dos meios, embora nosso conhecimento de como isso se processa seja bastante impreciso. Finalmente, existe a regularidade das relações de causa e efeito entre os meios utilizados e os fins alcançados; ou seja, as leis praxeológicas, que são distintas das leis físicas e fisiológicas.”(“A Ação Humana”, pág. 999).


Mises, em sua “praxeologia”, uma ideia dedutiva da ação do homem na Natureza para determinar seus princípios econômicos (uma pseudociência), sequer se ateve em dados empíricos e, provavelmente, Mises é apenas um ‘escritor’ de botequim para refinados ‘anjos’ das “trocas voluntárias” (porra, Hayek, para quê isso?) em um sistema coercitivo, no qual nem em seu país ele é reconhecido, muito menos na academia. O que se tem é jovem ‘intelectuais’ de Internet tentando usar suas ideias e difundi-las no Reino Encantado do livre-mercado teológico. 



Nota: partes do texto é composto por comentários de colegas coletados da Internet.

Atualizado no dia 01/03/17.



quinta-feira, 14 de julho de 2016

A queda da URSS e o mito do colapso econômico

Como já feito de outras vezes, o camarada Allefy Matheus, dispôs a compartilhar o que ele posta em seu blog (que, aliás, recomendo).

O artigo baixo é a versão traduzida deste artigo, que, por sua vez, é o resumo de um artigo (citado ao fim do texto) de David Kotz e Fred Wair. Ei-lo:


71 anos se passaram após a grande vitória da URSS na Guerra Patriótica!


Mais e mais intelectuais, especialistas em suas áreas, estão repensando visões generalizadas sobre a União Soviética. Um dos mitos mais difundidos é o do colapso econômico, e é também dos que mais vem sendo contestado. De acordo com este mito, a queda da URSS teria sido devida principalmente a uma crise econômica brutal (pela ineficiência do sistema). Mas na Rússia, como em outros lugares, muitos pensam que a queda da URSS não teve muito a ver com uma suposta crise econômica, mas que foi um processo iniciado pelas elites da própria URSS, e a crise econômica não seria a causa da reforma, mas sua consequência, embora tenha sido usado como uma desculpa. Esta é uma crença bastante difundida na Rússia (ver por exemplo, os estudos de Kara-Murza e outros, alguns deles até mesmo traduzidos em espanhol), mas também compartilhada por outros. Aqui, por exemplo, eu apresento um resumo de um artigo de David Kotz e Fred Wair, publicado na revista húngara à esquerda “Eszmélet’’ (‘Consciência’). O artigo é um resumo de seu livro “Revolução de cima: o desaparecimento do sistema soviético”.

Em relação ao artigo, eu não concordo com tudo o que os dois autores discutiram, mas no geral acho que é uma análise muito interessante.

Vista do Kremlin, centro de Moscou.


Os autores partem da ideia, que tentam demonstrar no texto, que, embora a URSS tivesse graves problemas econômicos, não havia nenhuma indicação de que houvesse qualquer perigo de colapso econômico, e este não ocorreu até que a elite do país destruiu o sistema econômico existente. Foi a estrutura não-democrática do país que causou o desastre, e não a economia planificada.

Eles começam falando da planificação soviética e de sua história:


Desde 1917 os bolcheviques testaram várias estratégias quanto à estrutura econômica do país; apenas na década de 1920 é que surgiu o chamado sistema soviético. Se caracterizava pelo fato de que todas as empresas agrícolas eram de propriedade pública e eram dirigidas, em última instância, por uma instituição central de Moscou.

Usina hidrelétrica de Dniépr (construída entre 1927 e 1932). A foto é de 1947.


Apesar disso, a economia soviética teve um forte crescimento e um desenvolvimento rápido. Muitos pensam que este rápido crescimento foi alcançado pelas medidas de repressão contra certos setores da sociedade, bem como pelas condições de vida difíceis. Mas os autores dizem, muito pelo contrário, que o regime stalinista desacelerou o crescimento econômico, que poderia ter sido muito maior do que realmente era.

Entre 1928 e 75 a economia soviética cresceu a uma taxa de 5,1% ao ano. Entre 1950 e 75, quando a economia já havia se industrializado, o crescimento econômico soviético permaneceu elevado, ainda mais do que os EUA.

O sistema soviético teve muitas vantagens sobre o capitalismo: o pleno emprego, a possibilidade de utilizar os lucros das empresas maciçamente no desenvolvimento da educação e da formação e o fato de não ser afetado pelas crises periódicas do capitalismo.

Nem tudo pode ser medido pelo PIB ou crescimento econômico, mas, em 1975, o país atrasado que havia sido a URSS havia se tornado uma potência econômica que de muitas maneiras competia com os EUA, e estes chegavam a estar em desvantagem numérica em alguns casos (veja o exemplo da corrida espacial).

Quebra-gelo atômico "Lenin", o primeiro navio de superfície no mundo alimentado por energia nuclear (1959-1989)


Se, em 1960, metade de todas as famílias soviéticas tinham rádio, 10% televisão e 1 em cada 25 freezer, em 1985 todas as famílias tinham esses aparelhos. Em 1980, a URSS tinha mais médicos e leitos hospitalares do que os EUA. Na década de 70 o desenvolvimento científico, tecnológico e econômico da URSS foi seguido com alarme pelas potências ocidentais. Muitos pensaram que o futuro pertencia ao regime soviético, com suas grandes conquistas, apesar de seus traços negativos.

No entanto, desde 1975, a economia soviética interrompeu o rápido desenvolvimento que teve até então. E o progresso tecnológico também parara. Pela primeira vez em décadas a economia americana crescia mais rápido que a soviética. Além disso, a corrida armamentista, reforçada pela administração Reagan, afeta-a seriamente.

Em 1985 Gorbachev chega ao poder, e a elite dirigente da URSS reconhece que reformas são necessárias. Mas suas reformas não trouxeram uma melhoria da situação, e a produção seguiu sem decolar. Entre 1985 e 1989, o crescimento econômico soviético médio foi de 2,2%, em vez dos 1,8% entre 1975 e 1985. Mas, desde 1975, nunca houve um crescimento negativo, enquanto que nos EUA ocorreu ao longo de três anos.

Até o fim dos anos 80, a escassez de mercadorias se acentua. Para analistas ocidentais isso significavam os primeiros sinais de colapso, mas a explicação era outra; a razão era que a renda das famílias aumento muito mais do que a produção de artigos de consumo. As culpadas disto eram as reformas econômicas, que haviam descentralizado a produção e deixado de regular a renda.

Assim, se a meados dos anos 80 a renda familiar cresceu 3-4% ao ano, em 1988 saltou a 9,1% e em 1989 a 12,8%. No entanto, os preços, que ainda não tinham sido estabelecidos pelas instituições centrais, não mudaram quase nada. Então as pessoas viram-se com um monte de dinheiro nas mãos, dos quais queriam se livrar o mais rápido possível. Em seguida, viu-se as lojas ficarem completamente vazias. O consumo, na realidade, continuava a crescer.

É verdade que a economia soviética não conseguiu um crescimento notável nos anos 80, mas a imagem do colapso econômico é falsa.

Porém, a coisa muda entre 1990 e 1991. Gorbachev está perdendo poder para Yeltsin. Em maio de 1990 Yeltsin ganhou poder na Federação Russa, e tentou concentrá-lo todo em suas mãos, tirando-o das autoridades soviéticas. Assim, as instituições de planificação econômica encontraram-se sem qualquer poder real, e a economia soviética, que era um todo homogênea, começou a desabar lentamente. É importante destacar: a crise não veio da incapacidade da economia planificada, mas do seu desmonte, que levou a uma ausência de meios de coordenação eficazes.

O operário e a camponesa (1937), de Vera Mukhina, na era soviética.
                                                                     
      
 A elite escolhe o capitalismo:


Como é possível que o regime soviético tenha caído sem oposição aparente?

Gorbachev e seu círculo pensavam que o principal defeito do regime soviético era a falta de democracia; por isso, desenvolveram a Perestroika (reestruturação). Formam-se 3 grandes grupos de opinião: os partidários da reforma, os partidários da manutenção do sistema como estava e os que rejeitavam o comunismo (“ultrapestroikistas”). Os anticomunistas, liderados por Yeltsin, se impôs a todos, porque conseguiu o apoio das elites do país.

Os estudos de Alec Nove, Farmer e Matthews e outros mostram que após a Segunda Guerra Mundial a elite soviética era uma casta ambiciosa e sem princípios definidos; só se importava com poder e ganhos pessoais. Em 1991, muitos membros desta elite reconheciam abertamente que não eram comunistas, embora estivessem no Partido Comunista. Esta raça de oportunistas avaliou as suas opções com a chegada das reformas de Gorbachev: não lhes beneficiava o socialismo democrático de Gorbachev e muitos poucos membros dessa elite apoiavam o retorno ao sistema anterior. Ainda que esse sistema lhes tivesse dado poder, era limitado, uma vez que não possuíam a propriedade privada e, portanto, o acúmulo de bens.

 Quando, em 1991, há uma tentativa de golpe contra as reformas, a mesma falha porque a elite se posiciona a favor de Yeltsin. Esta elite estava ansiosa para obter a posição de que gozaria no ocidente. E compreendeu que sua posição no país como novos capitalistas oferecer-lhes-iam muitas vantagens.

Assim aconteceu, por exemplo, com Viktor Chernomirdin, primeiro ministro do governo russo entre 1992 e 1998, que tinha sido ministro de produção e tratamento de gás durante a era soviética. Hoje é um dos homens mais ricos do mundo e maior acionista da GAZPROM. Segundo uma análise, entre os 100 mais destacados homens de negócios da Rússia, 62 eram membros da elite comunista e 38 vêm do mercado negro e do mundo do crime. 

Um estudo de junho de 1991 da cientista política norte-americana Judith Kullberg mostra que 77% da classe alta soviética era partidária do capitalismo, 12% do socialismo democrático e 10% do comunismo ou nacionalismo.

De acordo com um estudo realizado em 1991 por uma fundação americana na Rússia europeia, 10% da população queria voltar para o sistema anterior às reformas, 36% eram a favor do socialismo democrático, 23% do modelo social-democrata sueco e apenas 17% queriam um sistema similar ao capitalismo americano ou alemão. Ou seja, 69% queriam alguma forma de socialismo.

Outros estudos e pesquisas mostram taxas ainda mais baixas de apoio ao capitalismo ocidental.

Os reformistas dominavam as estruturas do poder soviético, mas os partidários do capitalismo dominavam as russas, por isso seu principal objetivo era destruir de alguma maneira a URSS. O referendo de março de 1991, entretanto, mostrara que a maioria da população era contra algo do tipo.



No artigo também se mencionam dados interessantes sobre a economia da URSS:

Crescimento econômico entre 1928 e 1985:

1928-40: URSS- 5,8% EUA- 1,7%
1940-50: URSS- 2,2% EUA- 4,5%
1950-70: URSS- 4,8% EUA- 2,9%
1975-85: URSS- 1,8% EUA- 2,9%

 Fonte: The Real National Income of Soviet Russia since 1928, Abraham Bergson, 1961; Measures of Soviet National Product in 1982 Prices, Joint Economic Committee, U.S. Congress.



Crescimento da economia soviética entre 1986-1991:


1986: 4,1%
1987: 1,3%
1988: 2,1%
1989: 1,5%
1990: -2,4%
1991: -12,8%

 Fontes: Measures of Soviet National Product in 1982 Prices, Joint Economic Committee, U.S. Congress.



Nota: O artigo foi escrito originalmente para o Fórum Comunista.

domingo, 3 de julho de 2016

A "esquerda-liberal"

Lênin está de olho em você!


O que escreverei aqui não é nada muito “trabalhado”. O que escreverei aqui é só uma pequena nota pessoal para o pessoal da ‘esquerda good vibes’. É somente uma breve opinião sobre o que eles pregam em “liberdade individual”.

Esse discurso é tão infantil que os pobres de intelectualidade mal sabem que o capitalismo é o reino da individualidade. É tão individual que tomam para si e para outros que “o ser humano é egoísta por natureza”. Tentam a todo modo pregar ‘livre-concorrência’, a tão linda ‘meritocracia’, e assim por diante.

Vamos pensar um pouco: como podemos pregar “liberdade individual” para quem sequer sabe o que é ser ‘livre’? Para quem acorda cedo, tem de trabalhar para ganhar pouco para manter o sustento da família, porque sem isso todos morrem de fome? Isso não é ser ‘livre’.

Como pregar “liberdade individual” para quem mora numa favela sem saneamento básico, sem escola, sem saúde, ou seja, sem o mínimo para a dignidade humana? A “escolha” é dele somente por eventualmente ele cair no mundo das drogas e do crime? Pois é...

O engraçado é que essa mesma esquerda” se queixa de “falta de liberdade” no capitalismo. Mas, fica a pergunta: isso é só uma obviedade ou apenas um atestado de ignorância?

A ‘new-left’ parece-me ter horror da História, parece ter medo de um progresso coletivo, pois, em seu idealismo ronda uma sociedade na qual é como um livrinho de receitas para serem colocadas num forno e com alguns minutos já está pronta para ‘materializar-se’.

Como disse meu amigo HG Erik: “É notável que, nos círculos da suposta esquerda “não-marxista”, as posições, por mais sofisticadas que se apresentem, não apontam para nenhuma superação realista (ou mesmo fantasiosa) da situação humana atual, em livre e acelerado processo de degradação completa e universal. Tudo se resume a críticas pontuais e, ainda que justas, surgem isoladas de uma compreensão e pretensão de totalidade. Ao contrário, trata-se de negar a possibilidade de tal compreensão e de tal pretensão. Com isso, não apontam para além de um reformismo com fins a perfumar o esgoto no qual afogam-se todos.”

Exatamente por conta disso, é fácil perceber que essa “esquerda” não-marxista reproduz todos os vícios da subjetividade estranhada e alienada que supostamente visa criticar – até porque só o faz teoricamente, mas não na prática. É como uma espécie de entretenimento acadêmico que não corresponde e nem visa corresponder à vida individual do próprio “esquerdista”, ou seja, é a crítica reduzida a um reles exercício de oratória – no que alguns se esmeram a ponto de enganar muita gente de boa-fé. ¹

Ainda vou além: os “reformistas” (lê-se Sociais-Democratas) têm, dentro de si, um desejo da chamada “conciliação de classes”. É um desejo tão ingênuo quanto quem denota não entender nada de geopolítica ou do quadro atual socioeconômico. A Social-Democracia foi um reformismo barato donde o seu fim já chegou. Portanto, as crises cíclicas do capitalismo “liberal” que já morreu, ‘floresce’ no espectro da esquerda como um viés neoliberal da direita despolitizada e cega da realidade material.


Conciliação de classes? Não se negocia com a burguesia, é preciso enfrentá-la, partir para ofensiva. Os trabalhadores precisam se reorganizar e criar um projeto revolucionário como alternativa possível e necessária à solução de seus problemas. A luta será árdua e levará tempo, mas não há outro caminho. E o "reformismo", mais uma vez, mostra seus limites e contradições. A revolução, portanto, é uma necessidade. Não devemos nutrir ilusões acerca da sociedade burguesa e de suas instituições. É o socialismo ou fim da humanidade que se apresenta no horizonte.


É justamente nessa “politica apolítica” que os ideólogos de botequim e de Facebook “idealizam” suas fantasias nutrindo suas esperanças bestas e alimentando os lunáticos e despidos de inteligência dos “liberais” – tudo por conta de uma militância (“militância”?) incapaz de fazer uma análise mais contundente e menos ‘romantizada’:


“Não há nada mais individualista que o lema "meu corpo, minhas regras". Se você é gay, hétero, trans, cis, não-binário, branco, negro, índio... não importa. Você deve ser o único dono do seu corpo, da sua propriedade, das suas decisões.

Por isso, não pense que a defesa de grupos minoritários é um monopólio da esquerda tradicional: ser liberal é defender minorias também, através do respeito a cada indivíduo como juiz de sua própria vida.


Além disso, a esquerda tradicional é estatista. São considerados defensores de minorias simplesmente pelo fato de monopolizarem as pautas de políticas públicas direcionadas. Só que afirmar a coerção do Estado termina por negar liberdade às pessoas”.


Olha como é bom ser "liberal" para fazer de pautas socais uma "mercadoria".


Post original: Partido "Social-Liberal".


A ‘militância esquerdista’ irracional não alimenta apenas sua cegueira ideológica, mas principalmente, o senso comum da “liberdade individual” com discurso caricato de quem adora servir de muletas para os ‘liberais’ fantasiosos.


A “esquerda” que tem medo da revolução:


Certas ditas esquerdas têm pavor da revolução. Por que será? Ah, “não se faz revolução com luvas de seda”. (Calma lá, eu transcrevendo frase de Stalin; opa, logo, sou “stalinista” ou “ortodoxo”, né?)

Brincadeira à parte. Fato é que “a revolução é o motor da história”, é somente nela que uma nova ordem possa ser instaurada, é só nela, que, podemos ter a real condição de mudanças, sem devaneios, mas com sangue, com a práxis, com a consciência COLETIVA, com um trabalho operário com o povo. COM O POVO!

Mais uma vez, o HG Erik “bate na cara”: ‘No teorismo sub-vulgar dessas esquerdas – em que coabitam os retalhos ideológicos mais inconsistentes o possível de serem concebidos (em separado, donde só mesmo seus geniais ideólogos podem costurá-los) -, há a concepção fundamentalíssima de um “etapismo” utópico que seria necessário para a revolução, sem o qual qualquer agitação das massas só pode ser desqualificada como uma espécie de “invasão bárbara” das ruas por hordas de usuários de pijamas.’

Mas se a democracia atual não permite ou favorece nem uma coisa nem outra – ao contrário, tudo indica que nela temos a atrofia de ambas -, então é preciso “fortalecer” e, é claro, “aperfeiçoar” a democracia, antes de tudo. Democracia nossa que prevê em constituição a ‘liberdade individual’. OK?

Ficam, assim, nessa etapa inicial para sempre. Chamam essa vergonhosa realpolitik de “realismo”. Deixam a revolução para o eterno futuro, ou seja, tornam o que era um meio para se chegar a ela o seu fim último.

Entretanto, se as ruas insistem em negar que a revolução seja uma utopia e são tomadas por multidões perdidas em ignorância e desespero, tais esquerdas se lançam à tarefa suicida de menosprezá-las, reprová-las e contê-las, considerando-as como massa acéfala de manobra dos dominantes ou firmes batalhões de uma contra-revolução sem revolução. ²

Quando essa “esquerda good vibes” cogitam a revolução, cogitam que possa haver uma ‘revolução planejada’. Só aí já vemos o quão defensores da liberdade individual’ são. Não têm a mínima audácia ou astúcia de camuflar seu péssimo conhecimento da práxis. Achando que o povo (esse sim, que “não tem nada a perder além de seus grilhões”) terão a “consciência de classe” vindo dos Céus do Socialismo Utópico.

Afinal, toda revolução é impossível até que se torne inevitável!

Já essa “esquerda liberal”, espero que saiam do idealismo platônico que o cerca, que tome partido, que não abrace essa ‘liberdade individual’ do egocentrismo e moldemos, juntos, uma coletividade no qual somente ela pode fazer alguma mudança.



“Uma andorinha só não faz verão”





Colaboração em leitura prévia: Amanda Soares.