É perceptível que o rock sempre foi um estilo musical
“rebelde”, libertador e, mais além, falando sobre o que tinha vontade, saindo
do senso comum e, portanto, não se importando com a reação das pessoas.
Engajado em criticar dogmas religiosos, opressão das instituições estatais, valores morais contemporâneos e fundamentalistas.
Quando nasceu, o rock tinha
esse instinto de ir contra aquilo que
era conservador (manter o estado de
coisas como é), ou seja, colocar às mostras aquilo que não era libertário. E,
assim, não demorando para “demonizá-lo”, até mesmo usando a Bíblia.
“Sexo, drogas e rock n’ roll”
Não se sabe exatamente donde
surgiu essa frase, mas é fato que se popularizou até virar lema do estilo
musical de forma a resumir bem o estilo de vida dos próprios músicos e
amantes. Era, inclusive, livrar-se de suas vidas enfadonhas em meio a um
sistema coercitivo e careta.
Como o rock é música, arte, é
também uma forma de se expressar. Portanto, é irrestrito o modo com que se
coloca a escrever as músicas e suas mensagens. A liberdade de expressão é
pressuposto básico e não apenas em si, mas à exterioridade, por ex.: ao
criticar códigos morais e culturais sem base ética e/ou repressora.
Na verdade, chega a ser
incoerente a autodenominação de “roqueiro” e levar uma vida com um pensamento
reacionário, conservador, moralista, fundamentalista e desprovido da ampla
liberdade civil. Uma pessoa “do rock”
tem dever moral contra as injustiças da vida política, compromisso através da
arte disseminar boas ideias e mais: fazer de ideias atitudes, e delas, uma nova
realidade. Cazuza uma vez disse:
“Nós gostamos de
rock e somos loucos
Eles fazem besteiras e são normais
Que vivam os loucos de boa cabeça
E pela metamorfose da vida se tornem ‘malucos beleza’”.
Eles fazem besteiras e são normais
Que vivam os loucos de boa cabeça
E pela metamorfose da vida se tornem ‘malucos beleza’”.
Geralmente essa galera são os
jovens, cheios de energias, ideias e disposição. Entre uns e outros, se ajeitam
em meio as dificuldades financeiras para estarem sempre ali com o pessoal “para o que der e vier”, etc.
Mas, ser jovem é
necessariamente ser rebelde, progressista e de opor-se ao que se está
estabelecido? Não, infelizmente não. Pode até ser contrário a algumas coisas de
gerações anteriores, mas na formação
ideológica reflete o ambiente em que vive (vida “selvagem”, pensamento
idem); ser criado de forma a manter o status
quo e, assim, se tornar um “rebelde
sem causa”, um retrógrado, mesmo quando as espinhas ainda estouram em sua
pele e sua mãe ainda traz o café com leite com biscoitos antes da escola.
Renato Russo (que,
sinceramente, se tivesse ainda vivo seria um desses neoconservadores) escreveu
na música “A Dança”:
“Você é tão
moderno
Se acha tão
moderno
Mas é igual a seus
pais
É só questão de
idade
Tanto fez tanto
faz”
No brasil atual, os
“revoltados” são muitas vezes jovens que se dizem fãs de Pink Floyd e não compreendem o que é a música “another brick in the wall”.
A prova desse reacionarismo e
neoconservadorismo associado ao Rock é perceber que a “rebeldia” nos anos 80 de
roqueiros como Lobão, Roger (Ultraje à Rigor) e, também antigos “críticos ao
sistema”, por ex. Fernando Gabeira que hoje é só um velho ranzinza e careta.
A poética das bandas de rock
dos anos 80 reflete esse cinismo em relação ao futuro em versos como “é melhor viver dez anos a mil do que mil
anos a dez” (Décadence Avec Élégance do Lobão) ou “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã” (Pais e
Filhos do Legião Urbana) ou o niilismo do Barão Vermelho (Roberto Frejat)
em “Ideologia”.
Em suma, em outra postagem já
havia dito sobre o rock e seus “fãs” tupiniquins atuais: haviam os
“vândalos” de boa consciência na época que apenas quebravam os ‘bons
costumes’ com a classe dominante e, pasmem: surgiam da mesma; Cazuza,
Ratos do Porão, Inocentes, entre outros. Eles não eram ideólogos conservadores,
mas pelo contrário: eram, sobretudo, artistas que faziam de seus talentos
críticas sociais, rompendo com aquilo que julgavam não ser libertário, de
progresso, etc. Hoje em dia, existem muito “fãs” que não entendem isso – a
quebra de um pensamento ultrapassado.
Mas ainda finalizo: ser
“roqueiro” e conservador é, portanto, algo incoerente, típico de quem lê e não
compreende o que está escrito. No caso do rock, ouve e curte, mas desconhece
seu significado, ou só é mais um “rebelde
sem causa” como o próprio Roger cantava. Até porque ser “roqueiro” não é
pagar de descolado com a galera para ser
cool e “diferentão”. O estilo vai
além da simples musicalidade; é arte e ideologia.
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