Desde o início aqueles filósofos subversivos e críticos ao
modus operandi de suas sociedades tiveram problemas (lhes custando a vida). Foi
assim com Sócrates na narrativa platônica e xenofônica; bem como foi com
Giordano Bruno na Idade Renascentista; o mesmo se deu com Rosa Luxemburgo na República
de Weimar na Alemanha; e, logo após, foi assim com Gramsci na Itália fascista.
Por outro lado, bajuladores do atraso civilizacional, no
aconchego de sua mediocridade, na “pluralidade” à desrazão mundana que traçaram
suas teorias e lapidaram o mundo do capital, ou seja, a exploração dos seres
através da mais-valia como meio “natural” e inexorável ao ser social. No viés
liberal-conservador, ainda que pintem com verniz progressista, como Arendt (esta
que arduamente atacou o marxismo enquanto seu amigo e filósofo alemão Karl Jasppers
foi perseguido pelo nazismo), Marleau-Ponty, Popper e Bobbio temos essas figuras. Nietzsche foi um aristocrata convicto, cujo foi fonte inspiradora de heideggeriana. Até
mesmo alguns foram mentores diretos de ditaduras facínoras da extirpe de
Heidegger e Schmitt.
Nesses todos há algo em comum na essencialidade: não
querem uma revolução social que emancipe o ser humano como tal; no muito um
pseudo progresso linear e reformista na sua gradação como se na história
houvesse alguma teleologia. Na aparência tentam igualar seus giros
linguísticos, todavia, são eles a mais pura expressão da teoria liberal e da
decadência ideológica e, portanto, ideólogos do metabolismo do capital e a
exploração humana e ecológica. São como Comte, Durkheim, Weber e Foucault (sociólogos do
capital): consultores da burocracia capitalista enquanto epifenômeno isolado e
reprodutores de uma legitimação superficial ainda que em suas especulações temos
coisas sérias e aproveitáveis, como em outra oportunidade escreve o camarada Felipe Lustosa.
Diferente de Weber, vemos em Gramsci, por exemplo, que os intelectuais
e sua função no âmbito da vida social não são conceituados como sujeitos e
ações distantes das determinações do mundo real, como um grupo “autônomo e
independente”. O italiano desenvolveu a tese que a função dos intelectuais nos
processos de formação de uma consciência crítica por parte dos subalternos e na
organização de suas lutas e ações políticas dá-se no trabalho
educativo-formativo que envolve a elaboração de uma consciência tomada a partir
da realidade concreta de mundo.
Hobbes e Locke como pensadores do liberalismo que viria a triunfar
na sociedade burguesa, suscitaram o mais vil depauperamento espiritual e consciência
humana: porque o liberalismo que emergiu dos escombros do regime feudal foi o
combustível do irracionalismo; porém, este dois pensadores foram honestos na intelectualidade
ali disposta: realmente creram no que teorizaram enquanto ideólogos da classe
dominante, mas ainda que acreditaram fielmente no mito da “essência humana” a
qual medeia as vicissitudes do homem médio. Os ideólogos ingleses –
que além desses dois entram aqui Smith – universalizam o capitalismo como natureza
humana, tanto biológica como espiritual (natureza divina). Enquanto isso, a
ideologia liberal francesa (Voltaire, Montesquieu, etc.) é juspositivista.
Como diz meu amigo Vinícius Bessi: “Será que isso se explica pelo fato da passagem do feudalismo para o
capitalismo na Inglaterra, por exemplo ter sido realizada sem rupturas bruscas
da burguesia industrial inglesa com a aristocracia, que por sua vez se tornou
em grande parte burguesia fundiária, enquanto na França a passagem foi muito
menos orgânica, com rupturas bruscas em processos de grande violência
revolucionária?”.
Lukács dizia que as modificações por que passou o original
projeto filosófico burguês foram notáveis: a crença no poder da razão
transformar em agnosticismo (manifesto quer no positivismo, quer no
neokantismo) e a reflexão abandona as grandes temáticas sócio-históricas para
converter-se em “guarda-fronteiras” das ciências em que o seu papel limita-se à
vigilância “para que ninguém ouse tirar
das ciências econômicas e sociais conclusões que poderiam desacreditar o
sistema”.
Sobre o sociologismo vulgar buscado na filosofia política, Felipe
Lustosa fez as seguintes ponderações: “fazendo alusões às falseadas de Rousseau,
Hume e Hobbes, sempre levam ao misticismo e velam a essência do estranhamento
social; velam, dentre outras coisas, as causas imanentes da alienação oriundas
das relações de produção que fulminam, como um relâmpago de Zeus, a
subjetividade do homem vivo, em especial quando os ditos "filósofos"
se transmutam de uma hora para outra em "cientistas-políticos" (ou em
outra categoria de abjetos, como é a dos sociólogos) e então se metem a analisar
a políticidade e o devenir humano: Acredita-se piamente estar se discutindo
política, mas está se discutindo, na realidade, metafísica.”.
E prossegue: “Os pensadores do mundo burguês estão somente à mercê do lucro
e a reprodução de capital; mantendo a civilização em sua ruína. São detratores
da mais avançada filosofia de nossos tempos: o marxismo. Sua radicalidade
mantém-nos a chama civilizatória acesa no mundo da obscuridade; refina e lapida
seus adeptos para melhor e os torna mais humanos, altruístas, humanistas,
críticos, compreensivos entre si e sensíveis ao mundo a seu redor. ”
A mistificação que esses nobres senhores fazem com toda
arrogância, com desdém e estimuladores das preguiças mentais tem alimentado as
energias nas moendas de esforços vãos. Ao caírem os ídolos de seus altares e as
divindades que os quais veneram, veem-se como dissipam as nuvens de incenso
doloroso e pueril. Quando a concepção do mundo não é crítica e coerente, mas
ocasional e desagregada, pertencemos simultaneamente a uma multiplicidade de
seres mecânicos e alienados à própria realidade, sem o poder da crítica
imanente que emerge da concepção de mundo.
O liberalismo contemporâneo é intrinsecamente conservador em
sua raiz. A antropologia do liberalismo foi teológica, pois eles imaginavam as
características de Deus, aquelas que remetem a perfeição e a virtude como um
ideal que o homem devia perseguir. O rompimento de outrora do jusnaturalismo
fora apenas parcial em sua gênese; apreensões descompromissadas criticamente
surgem como forma de legitimação desta sociabilidade a impedir quaisquer
mudanças substantivas no seu interior: o reino Sagrado do mundo burguês.
Para o liberal moderno, bastam-lhe as virtudes teológicas, a mais vil forma de
perpetuação das mazelas mundanas.
Não à toa Marx sofreu penúrias (em que seu grande amigo e Engels
esteve a ajudar) que mesmo depois de morto culminou no suicídio de uma de suas
filhas após ser estuprada por policiais da burguesia londrina; e Lukács
debruçou literalmente até morrer para constatar algo em comum...
A filosofia serve como a crítica do velho mundo, significa
também criticar toda a filosofia até hoje existente, na medida em que ela
deixou estratificações consolidadas na filosofia popular. É preciso ser
radical, tomar as coisas pelas raízes, e a raiz do ser humano é ele próprio
para sua transformação – e os filósofos têm este compromisso com seus pares. Para
isso nos basta a Tese Onze sobre Feuerbach...
Recado básico e importante:
Não
choremos pela burguesia ser burguesa, lutemos para que ela seja apenas um passado
da pré-história da humanidade, assim como a própria classe trabalhadora. A ditadura do proletariado não terá como objetivo à política como tal, mas a sua extinção!
Nenhum comentário:
Postar um comentário