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sábado, 14 de julho de 2018

Filósofos e “filósofos”: subversão e adestramento




Desde o início aqueles filósofos subversivos e críticos ao modus operandi de suas sociedades tiveram problemas (lhes custando a vida). Foi assim com Sócrates na narrativa platônica e xenofônica; bem como foi com Giordano Bruno na Idade Renascentista; o mesmo se deu com Rosa Luxemburgo na República de Weimar na Alemanha; e, logo após, foi assim com Gramsci na Itália fascista.

Por outro lado, bajuladores do atraso civilizacional, no aconchego de sua mediocridade, na “pluralidade” à desrazão mundana que traçaram suas teorias e lapidaram o mundo do capital, ou seja, a exploração dos seres através da mais-valia como meio “natural” e inexorável ao ser social. No viés liberal-conservador, ainda que pintem com verniz progressista, como Arendt (esta que arduamente atacou o marxismo enquanto seu amigo e filósofo alemão Karl Jasppers foi perseguido pelo nazismo), Marleau-Ponty, Popper e Bobbio temos essas figuras. Nietzsche foi um aristocrata convicto, cujo foi fonte inspiradora de heideggeriana. Até mesmo alguns foram mentores diretos de ditaduras facínoras da extirpe de Heidegger e Schmitt.

Nesses todos há algo em comum na essencialidade: não querem uma revolução social que emancipe o ser humano como tal; no muito um pseudo progresso linear e reformista na sua gradação como se na história houvesse alguma teleologia. Na aparência tentam igualar seus giros linguísticos, todavia, são eles a mais pura expressão da teoria liberal e da decadência ideológica e, portanto, ideólogos do metabolismo do capital e a exploração humana e ecológica. São como Comte, Durkheim, Weber  e Foucault (sociólogos do capital): consultores da burocracia capitalista enquanto epifenômeno isolado e reprodutores de uma legitimação superficial ainda que em suas especulações temos coisas sérias e aproveitáveis, como em outra oportunidade escreve o camarada Felipe Lustosa.

Diferente de Weber, vemos em Gramsci, por exemplo, que os intelectuais e sua função no âmbito da vida social não são conceituados como sujeitos e ações distantes das determinações do mundo real, como um grupo “autônomo e independente”. O italiano desenvolveu a tese que a função dos intelectuais nos processos de formação de uma consciência crítica por parte dos subalternos e na organização de suas lutas e ações políticas dá-se no trabalho educativo-formativo que envolve a elaboração de uma consciência tomada a partir da realidade concreta de mundo.

Hobbes e Locke como pensadores do liberalismo que viria a triunfar na sociedade burguesa, suscitaram o mais vil depauperamento espiritual e consciência humana:  porque o liberalismo que emergiu dos escombros do regime feudal foi o combustível do irracionalismo; porém, este dois pensadores foram honestos na intelectualidade ali disposta: realmente creram no que teorizaram enquanto ideólogos da classe dominante, mas ainda que acreditaram fielmente no mito da “essência humana” a qual medeia as vicissitudes do homem médio.  Os ideólogos ingleses – que além desses dois entram aqui Smith – universalizam o capitalismo como natureza humana, tanto biológica como espiritual (natureza divina). Enquanto isso, a ideologia liberal francesa (Voltaire, Montesquieu, etc.) é juspositivista.

Como diz meu amigo Vinícius Bessi: “Será que isso se explica pelo fato da passagem do feudalismo para o capitalismo na Inglaterra, por exemplo ter sido realizada sem rupturas bruscas da burguesia industrial inglesa com a aristocracia, que por sua vez se tornou em grande parte burguesia fundiária, enquanto na França a passagem foi muito menos orgânica, com rupturas bruscas em processos de grande violência revolucionária?”.

Lukács dizia que as modificações por que passou o original projeto filosófico burguês foram notáveis: a crença no poder da razão transformar em agnosticismo (manifesto quer no positivismo, quer no neokantismo) e a reflexão abandona as grandes temáticas sócio-históricas para converter-se em “guarda-fronteiras” das ciências em que o seu papel limita-se à vigilância “para que ninguém ouse tirar das ciências econômicas e sociais conclusões que poderiam desacreditar o sistema”. 

Sobre o sociologismo vulgar buscado na filosofia política, Felipe Lustosa fez as seguintes ponderações:  fazendo alusões às falseadas de Rousseau, Hume e Hobbes, sempre levam ao misticismo e velam a essência do estranhamento social; velam, dentre outras coisas, as causas imanentes da alienação oriundas das relações de produção que fulminam, como um relâmpago de Zeus, a subjetividade do homem vivo, em especial quando os ditos "filósofos" se transmutam de uma hora para outra em "cientistas-políticos" (ou em outra categoria de abjetos, como é a dos sociólogos) e então se metem a analisar a políticidade e o devenir humano: Acredita-se piamente estar se discutindo política, mas está se discutindo, na realidade, metafísica.”.

E prossegue: Os pensadores do mundo burguês estão somente à mercê do lucro e a reprodução de capital; mantendo a civilização em sua ruína. São detratores da mais avançada filosofia de nossos tempos: o marxismo. Sua radicalidade mantém-nos a chama civilizatória acesa no mundo da obscuridade; refina e lapida seus adeptos para melhor e os torna mais humanos, altruístas, humanistas, críticos, compreensivos entre si e sensíveis ao mundo a seu redor.

A mistificação que esses nobres senhores fazem com toda arrogância, com desdém e estimuladores das preguiças mentais tem alimentado as energias nas moendas de esforços vãos. Ao caírem os ídolos de seus altares e as divindades que os quais veneram, veem-se como dissipam as nuvens de incenso doloroso e pueril. Quando a concepção do mundo não é crítica e coerente, mas ocasional e desagregada, pertencemos simultaneamente a uma multiplicidade de seres mecânicos e alienados à própria realidade, sem o poder da crítica imanente que emerge da concepção de mundo.

O liberalismo contemporâneo é intrinsecamente conservador em sua raiz. A antropologia do liberalismo foi teológica, pois eles imaginavam as características de Deus, aquelas que remetem a perfeição e a virtude como um ideal que o homem devia perseguir. O rompimento de outrora do jusnaturalismo fora apenas parcial em sua gênese; apreensões descompromissadas criticamente surgem como forma de legitimação desta sociabilidade a impedir quaisquer mudanças substantivas no seu interior: o reino Sagrado do mundo burguês. Para o liberal moderno, bastam-lhe as virtudes teológicas, a mais vil forma de perpetuação das mazelas mundanas. 

Não à toa Marx sofreu penúrias (em que seu grande amigo e Engels esteve a ajudar) que mesmo depois de morto culminou no suicídio de uma de suas filhas após ser estuprada por policiais da burguesia londrina; e Lukács debruçou literalmente até morrer para constatar algo em comum...

A filosofia serve como a crítica do velho mundo, significa também criticar toda a filosofia até hoje existente, na medida em que ela deixou estratificações consolidadas na filosofia popular. É preciso ser radical, tomar as coisas pelas raízes, e a raiz do ser humano é ele próprio para sua transformação – e os filósofos têm este compromisso com seus pares. Para isso nos basta a Tese Onze sobre Feuerbach...


Recado básico e importante:

Não choremos pela burguesia ser burguesa, lutemos para que ela seja apenas um passado da pré-história da humanidade, assim como a própria classe trabalhadora. A ditadura do proletariado não terá como objetivo à política como tal, mas a sua extinção!

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