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terça-feira, 4 de outubro de 2016

Rock e conservadorismo: falha ideológica do fã mirim reacionário




É perceptível que o rock sempre foi um estilo musical “rebelde”, libertador e, mais além, falando sobre o que tinha vontade, saindo do senso comum e, portanto, não se importando com a reação das pessoas. Engajado em criticar dogmas religiosos, opressão das instituições estatais, valores morais contemporâneos e fundamentalistas.

Quando nasceu, o rock tinha esse instinto de ir contra aquilo que era conservador (manter o estado de coisas como é), ou seja, colocar às mostras aquilo que não era libertário. E, assim, não demorando para “demonizá-lo”, até mesmo usando a Bíblia.


“Sexo, drogas e rock n’ roll”


Não se sabe exatamente donde surgiu essa frase, mas é fato que se popularizou até virar lema do estilo musical de forma a resumir bem o estilo de vida dos próprios músicos e amantes. Era, inclusive, livrar-se de suas vidas enfadonhas em meio a um sistema coercitivo e careta.

Como o rock é música, arte, é também uma forma de se expressar. Portanto, é irrestrito o modo com que se coloca a escrever as músicas e suas mensagens. A liberdade de expressão é pressuposto básico e não apenas em si, mas à exterioridade, por ex.: ao criticar códigos morais e culturais sem base ética e/ou repressora.

Na verdade, chega a ser incoerente a autodenominação de “roqueiro” e levar uma vida com um pensamento reacionário, conservador, moralista, fundamentalista e desprovido da ampla liberdade civil. Uma pessoa “do rock” tem dever moral contra as injustiças da vida política, compromisso através da arte disseminar boas ideias e mais: fazer de ideias atitudes, e delas, uma nova realidade. Cazuza uma vez disse:


“Nós gostamos de rock e somos loucos
Eles fazem besteiras e são normais
Que vivam os loucos de boa cabeça
E pela metamorfose da vida se tornem ‘malucos beleza’”.


Geralmente essa galera são os jovens, cheios de energias, ideias e disposição. Entre uns e outros, se ajeitam em meio as dificuldades financeiras para estarem sempre ali com o pessoal “para o que der e vier”, etc.

Mas, ser jovem é necessariamente ser rebelde, progressista e de opor-se ao que se está estabelecido? Não, infelizmente não. Pode até ser contrário a algumas coisas de gerações anteriores, mas na formação ideológica reflete o ambiente em que vive (vida “selvagem”, pensamento idem); ser criado de forma a manter o status quo e, assim, se tornar um “rebelde sem causa”, um retrógrado, mesmo quando as espinhas ainda estouram em sua pele e sua mãe ainda traz o café com leite com biscoitos antes da escola.

Renato Russo (que, sinceramente, se tivesse ainda vivo seria um desses neoconservadores) escreveu na música “A Dança”:


“Você é tão moderno
Se acha tão moderno
Mas é igual a seus pais
É só questão de idade
Tanto fez tanto faz”


No brasil atual, os “revoltados” são muitas vezes jovens que se dizem fãs de Pink Floyd e não compreendem o que é a música “another brick in the wall”.

A prova desse reacionarismo e neoconservadorismo associado ao Rock é perceber que a “rebeldia” nos anos 80 de roqueiros como Lobão, Roger (Ultraje à Rigor) e, também antigos “críticos ao sistema”, por ex. Fernando Gabeira que hoje é só um velho ranzinza e careta.

A poética das bandas de rock dos anos 80 reflete esse cinismo em relação ao futuro em versos como “é melhor viver dez anos a mil do que mil anos a dez” (Décadence Avec Élégance do Lobão) ou “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã” (Pais e Filhos do Legião Urbana) ou o niilismo do Barão Vermelho (Roberto Frejat) em “Ideologia”.

Em suma, em outra postagem já havia dito sobre o rock e seus “fãs” tupiniquins atuais: haviam os “vândalos” de boa consciência na época que apenas quebravam os ‘bons costumes’ com a classe dominante e, pasmem: surgiam da mesma; Cazuza, Ratos do Porão, Inocentes, entre outros. Eles não eram ideólogos conservadores, mas pelo contrário: eram, sobretudo, artistas que faziam de seus talentos críticas sociais, rompendo com aquilo que julgavam não ser libertário, de progresso, etc. Hoje em dia, existem muito “fãs” que não entendem isso – a quebra de um pensamento ultrapassado.

Mas ainda finalizo: ser “roqueiro” e conservador é, portanto, algo incoerente, típico de quem lê e não compreende o que está escrito. No caso do rock, ouve e curte, mas desconhece seu significado, ou só é mais um “rebelde sem causa” como o próprio Roger cantava. Até porque ser “roqueiro” não é pagar de descolado com a galera para ser cool e “diferentão”. O estilo vai além da simples musicalidade; é arte e ideologia.

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